Política de línguas, circulação de jornais e integração em cidades-gêmeas da fronteira.


resumo resumo

Andréa F. Weber



os jornais transfronteiriços não estão presentes naquelas cidades-gêmeas de maior porte, responsáveis por grande parte do transporte de bens e pelo turismo internacionais da região, como é o caso de  Uruguaiana/Paso de los Libres (BR/AR) e São Borja/Santo Tomé (BR/AR), o que corrobora os estudos de Grimson (2000, 2002) e Bein (2013), no sentido de que a ponte, o controle aduaneiro e imigratório, o intenso tráfego e as dificuldades e significados deles decorrentes podem inibir a integração local.

Assim, a ideia da fronteira como local que envolve dois países está constituída na circulação de cinco jornais, a maioria deles em cidades geminadas que não se caracterizam como corredor de passagem para produtos e pessoas no Mercosul e situadas nas fronteiras mais meridionais do Brasil. A integração transfronteiriça, portanto, se estabelece nessas cidades-gêmeas por meio do funcionamento de sua imprensa, que, ao circular nos dois lados da fronteira, cria uma comunidade de leitores e um sentimento de pertencimento a um local, que é transfronteiriço. Por outro lado, se a circulação de jornais dos dois lados da linha divisória funciona como elemento de integração transfronteiriça por si só, por outro, seria necessário conhecer que conteúdos esses jornais brasileiros fazem circular do outro lado, a fim de identificar se a cobertura jornalística também compreende os países limítrofes, se a expressão linguística incorpora a língua nacional vizinha, enfim, se os sentidos projetados são, de fato, integradores.

No próximo tópico, buscamos responder a um desses questionamentos: quais são as línguas usadas por esses jornais ao delimitarem apenas a um ou a ambos os lados da fronteira como sua área de abrangência. Mais do que identificar a língua de enunciação, porém, procuramos interpretar os sentidos que esses usos projetam ao associarem a língua a um determinado espaço local, que pode ser nacional ou transfronteiriço. Assim, acreditamos que o uso das línguas produz um discurso sobre o local na fronteira e sobre a integração que nele ocorre.

 

Os sentidos políticos das línguas inscritos na circulação dos jornais fronteiriços.

Considerando que a abrangência de jornais locais contribuiu para a constituição e difusão de um sentimento de pertencimento a um espaço geográfico, social e cultural, as línguas que o jornal usa em sua enunciação são sinalizadoras das línguas que circulam nesse espaço e dos sentidos nelas inscritos. Desse modo, quanto mais integradas as cidades geminadas, maior seria esse fluxo linguístico através das fronteiras; mais naturalizadas seriam para os habitantes locais as línguas faladas nos