A língua, os museus e os espelhos


resumo resumo

Larissa Montagner Cervo



específicas: a linguagem é um sistema ou um meio de comunicação (Sapir, Dicionário, Goldstein); a linguagem transmite e expressa (Goldstein, Weiten – e, talvez, também Sapir, se buscarmos, no interdiscurso, a ideia de que a língua falada por um grupo é aquilo que veicula os pensamentos, a partir do ensejo da questão do cultural na linguagem); a língua é um conjunto finito que produz em direção ao infinito (Chomsky, Weiten); e a língua não é algo instintivo, e sim um método que se constitui de símbolos produzidos de modo voluntário (Sapir – cultural – a linguagem interpenetra a experiência, determinando o pensamento).

Em um segundo momento, tentando fazer dialogar esses levantamentos, transborda a tensão inscrita no processo de agrupamento de versões e de definições sobre língua e linguagem. Por exemplo, se recuperarmos as relações entre a Linguística e a Psicologia e o fortalecimento dessas relações a partir da publicação do trabalho de Chomsky nos anos 50, poderíamos, talvez, compreender o processo de filiação de memória que significa no dizer de Weine, quando o autor trata de regras de combinação e de variedade infinita de mensagens, como uma formulação que atualiza sentidos inscritos em uma definição chomskyana de língua como sistema finito de regras formais. No entanto, se colocarmos em relação Chomsky e Sapir, o que observaremos é uma contradição entre o universalismo, a partir do qual todas as línguas teriam formalmente propriedades comuns, abarcadas pela gramática universal, e o relativismo, que pressupõe não podermos trabalhar cegamente com o princípio da universalidade, haja vista a questão cultural que se interpõe na constituição de diferentes línguas - muito embora a aceitação de Sapir a respeito de certas propriedades formais comuns às línguas. A ideia da contradição é interessante porque ela significa, inclusive, na própria prática de tradução dos textos de divulgação apresentados nos monitores: com a tese de que se pensa diferente em diferentes culturas (ORLANDI, 2009), em sua época histórica Sapir provocou uma ampla discussão sobre a possibilidade de tradução, algo que o museu atualiza como não conflitante no momento mesmo em que didatiza em seis línguas uma gama de informações a respeito de linguagem e de língua, esteja tratando-se de língua gramatizada, inventada, sagrada ou mágica. Em outras palavras, muito embora a própria recorrência do museu à definição de língua por Sapir, a questão da significação e da tradução parece ser pacificamente resolvida no interior do arquivo.

Saindo um pouco da especificidade dessas citações, a tensão e a contradição que podem ser observadas no conjunto de definições instigam-nos a questionar o modo como o museu não define língua e linguagem no gesto mesmo de defini-las a partir de