Apresentação

Junho de 2021, terceiro número da revista lançado em meio à pandemia da Covid 19. Dor, cansaço, assombro misturam-se a resistência, luta, respiro de sentido, insistência na vida. Rua mantém seu ritmo de publicação agradecendo vivamente aos autores, aos pareceristas, à equipe técnica que permitem a manutenção de um espaço profícuo de circulação de saberes que tocam o espaço urbano em seu funcionamento simbólico, político, histórico e ideológico. A revista agradece ainda as condições institucionais que têm nos mantido seguros em nosso trabalho a distância. Reafirmamos, na persistência da publicação, a importância de continuarmos dando visibilidade a pesquisas que trazem à tela possibilidades de compreensão das formações sociais, dos processos de identificação e subjetivação, das injunções político-histórico-ideológicas que afetam nossas presenças nos espaços de vida em comum.

No presente número, a seção Estudos é aberta pelo artigo Epidemias e as cidades como síntese do progresso e das desigualdades: o conhecimento técnico-científico e a morfologia urbana de Rodrigo Alberto Toledo, Rafael de Brito Dias e Oswaldo Gonçalves Junior que fazem uma análise da história do enfrentamento técnico-científico de epidemias do final do século XIX até as duas primeiras décadas do XX, observando como o espaço urbano, marcado pelo funcionamento do capitalismo, apresenta assimetrias socioeconômicas que potencializam epidemias e escancaram desigualdades sociais. Também tendo o espaço urbano marcado pelo funcionamento do capitalismo em sua forma de especulação imobiliária, Simone Gonçalves de Paiva, Silvia Cristina Franco Amaral e Ana Elisa Spaolonzi Queiroz Assis, em Os jogos olímpicos e o direito à moradia – Barcelona 92 e Rio de Janeiro 2016, nos mostram os megaeventos esportivos enquanto uma estratégia da política neoliberal, apoiados em um projeto de reestruturação urbana que possibilita o que as autoras chamam de um empresariamento das cidades. Igualmente observando o funcionamento do capitalismo, Eduardo Santos de Oliveira, em As doses homeopáticas do jornalismo: um discurso contra as fake News, mostra como a relação entre jornalismo e capitalismo está na base das condições da produção, formulação, circulação do que se chama de fake News. Por seu lado, Sheilla Maria Resende, em Manual agronômico do café: camponeses, terra, contradição e apagamento, tomando o Manual enquanto um instrumento tecnológico que se funda por um efeito da escrita enquanto forma única e excludente de materialização do conhecimento, apresenta uma análise que nos faz ver o apagamento da relação dos camponeses com a terra que se instala nessa discursividade sustentada pelo efeito da escrita. Por outro lado, e observando também a relação do sujeito de linguagem com a escrita, sob outras condições de produção, Gestos de interpretação e função-autor no blog Nodanakaroda, de Lucimar Luisa Ferreira, permite que observemos o funcionamento de gestos de interpretação e autoria no processo de textualização em um blog pessoal de um autor indígena Baniwa. É na escrita também, agora sob o funcionamento do discurso literário, que Bruna Araujo Cunha e Joelma Santana Siqueira discutem, a partir das notações sensoriais do sujeito lírico que vivencia a modernização do espaço urbano, impressões diversas da cidade de São Paulo, em Notações sensoriais do espaço urbano em Paulicéia Desvairada (1922), de Mário de Andrade. Sob um outro tipo de olhar, já não mais lírico, mas etnográfico, FORA HAOLE e “NO BIKE”: notas etnográficas de uma pista pública de Skate no ano de 2020, de Carlos Henrique de Vasconcellos Ribeiro, Jeferson Roberto Rojo e Erik Giuseppe Pereira, sinalizam alguns mecanismos de socialização de praticantes de Skate em uma pista pública, refletindo sobre o cotidiano de lazer das grandes cidades e do seu processo de urbanização. Olhando também para o espaço urbano, o artigo Espaço enunciativo urbano: entrevista com os idealizadores do projeto pesquisa Escola Verde, de Rhafaela Rico Bertolino Beriula, Andressa Fabrina Klauck e Tânia Pitombo de Oliveira, procura compreender o ‘Projeto Pesquisa Escola Verde’ (PPEV), desenvolvido no espaço urbano da cidade de Sinop, região norte do Estado de Mato Grosso, enquanto um acontecimento enunciativo no qual há uma rede de substitutibilidade em torno de ‘verde’ afetada pelos espaços de enunciação e pelo memorável. Fechando essa Seção, temos o artigo “Tá se achando feio? Autoestima lá embaixo? Ah, vem pra Rondônia!”. Análise discursiva do humor sobre Rondônia e seus habitantes, de Ilka de Oliveira Mota, em que, aliando discurso e humor, busca compreender as representações imaginárias construídas sobre o estado de Rondônia e seus habitantes. Na Seção Notícias e Resenhas, o leitor tem acesso à síntese das atividades do primeiro semestre de 2021 do Laboratório de Estudos Urbanos e à resenha de Júlia Marchesin Caetano sobre A cidade, de Massimo Cacciari. E na Seção Artes temos os ensaios fotográficos “Vidas em imagens: percepções dos espaços do bairro da Camboa” de Maysa Mayara Costa de Oliveira e “Cidades invisíveis” de Carolina Engler e Juliana Engler. Temos também “PM O’ Glock”, poemas de Douglas Batalha.

Fiquem bem! Boa leitura!





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