Apresentação

Iniciamos o ano de 2025 com uma edição potente da revista Rua que celebra neste ano 30 anos de existência! Em novembro, apresentaremos um dossiê especial cujo objetivo será realizar diretamente o gesto da comemoração, envolvendo autores que estão na base histórica da revista. E, ao olhar para esta presente edição que se faz no ano comemorativo, temos a certeza de que a política editorial da revista Rua continua pertinente e fundamental para a abertura de um espaço multidisciplinar que traga a linguagem, nas suas mais diversas formas de acontecer, como ancoragem para se refletir sobre as práticas sociais que se instalam nas mais diversas formas em que a linguagem está presente, fazendo sentido, fazendo laço e deslaço, dando corpo a processos de significação que importam para compreendermos parte do que circula nos espaços de vida das formações sociais. Nesta edição, contamos com os artigos recebidos em fluxo contínuo e com um belíssimo e fortíssimo dossiê, organizado pelo colega do Labeurb Marcos Barbai que apresenta o dossiê em texto à parte. Agradecemos muito a ele e ao conjunto de autoras e autores que participam do dossiê pelas importantes e profundas contribuições. Nossa seção Estudos é aberta por um ensaio que nos tira o fôlego pela delicadeza de uma escuta e de uma escrita que põem a ver, na história da música, os processos de subjetivação que se inscrevem na enunciação de um testemunho sobre a Bossa Nova com o artigo Conversando com Roberto Menescal. O dito e o a dizer da história da bossa nova de Pedro de Souza. Em seguida, em Transgênero e língua: Uma revisão de literatura e sugestões para o futuro de Don Kulick e traduzido por Kaya Araújo Pereira, temos um artigo de mais de 20 anos atrás que se apresenta como uma importante compreensão das tendências, nos estudos acadêmicos, sobre o uso da língua por sujeitos transgêneros ao longo da segunda metade do século XX, que abre portas para análises atualizadas sobre as práticas linguajeiras que se espacializam, na diferença, nos espaços citadinos. Olhando igualmente para esses espaços citadinos, o artigo Espaços de insurgência e citadinidade: dos imaginários da rua à ação política, de Gustavo Souza Santos, traz à tela articulações entre a configuração de imaginários da/sobre a rua e da/sobre as práticas de mobilizações sociais que se inscrevem em espaços de insurgência no espaço citadino. É nesse espaço que também se efetivam violências de diferentes dimensões que interditam corpos (d)e sentidos que nos são apresentadas em uma fina análise em Versões de Luto nas Ruas de São Paulo de Ana Elisa Volpato Ortolano e Ian Gabriel Couto Schlindwein, refletindo o luto coletivo frente à barbárie, que implica produtivamente na manutenção de uma luta coletiva. Olhando para outras dimensões das tensões que se efetivam no espaço citadino, temos O que as praças comunicam? Estudo do conflito entre comunidade e gestão pública no espaço citadino, de Rodrigo Carlos Bezerra Lopes e Paula Apolinário Zagui, no qual os autores analisam as praças públicas como espaços de disputa simbólica e política, compreendendo que as intervenções urbanas governamentais reconfiguram os sentidos do espaço em dissonância com aqueles que já eram significados pelas práticas cotidianas do território. De seu lado, A imagem da Cidade de Aracaju (SE): uma análise a partir das transformações arquitetônicas e urbanísticas da Praça Fausto Cardoso, de João Victor Silveira Santos, Márcia Maria Couto Mello e Ana Licks Almeida Silva, traz à tela os modos como as transformações arquitetônicas e urbanísticas ocorridas nos espaços públicos afetam os imaginários sobre esses espaços e, portanto, suas práticas. Também olhando para os movimentos de significação dos/nos espaços a partir de textualidades que os interpretam, temos o artigo A rua, a loja e a floresta: Metáforas do Ciclo da Borracha em Pará, Capital: Belém (2000), de Wellerson Bruno Farias dos Reis, César Augusto Martins de Souza e Ximena Antonia Diaz Merino, em que são exploradas as metáforas e alegorias literárias no jogo com o ciclo da borracha no Brasil. E, olhando para entre-espaços que se efetivam, dentre outras formas, em regiões de fronteiras, o artigo “Eu passo pelos carreiro tranquilo”: Uma análise da fronteira Brasil-Argentina, de Marilene Aparecida Lemos, faz ver o tensionamento entre o que está (ou não) autorizado institucionalmente na disputa entre a ordem jurídico-administrativa e a ordem das práticas cotidianas, produzindo sentidos para os sujeitos nos territórios. Ainda se debruçando em uma relação entre Brasil e Argentina, observando a ordem das políticas de Estado em dois governos Brasil/Bolsonaro e Argentina/Macri, o artigo Fórmulas discursivas y designificaciones de los Derechos Humanos en el Macrismo y el Bolsonarismo, de Argus Romero Abreu de Morais, observa as diferenças e semelhanças na relação desses governos com as ditaduras militares que fazem parte dessas duas nações. Finalmente, fechando a seção, temos Heterogeneidades enunciativas e intertextualidade: uma análise das crônicas jornalísticas da covid-19, de Adriano Charles da Silva Cruz e Glynner Freire Brandão Costa, no qual são analisadas formas de se dizer sobre a covid-19 em 2020 no Brasil e seus efeitos de sentido. A seção Artes do presente número nos é brindada pelo Dossiê já aqui referido. Na seção notícias e resenhas, além de serem apresentadas as principais realizações do Labeurb no primeiro semestre de 2025, temos a resenha de Deborah Pereira sobre o livro Argumentação e Análise de Discurso – conceitos e análises, de Eni Orlandi, publicado em 2023, com o título de Argumentação e Análise de Discurso: entre a ideologia e a metáfora, justamente pela resenhista dar relevo à compreensão da autora sobre a argumentação enquanto um funcionamento que se dá na instância da não-comunicação, priorizando formas outras de estabelecimento dos sentidos, como a metáfora e o non sense.

Agradecendo sempre o conjunto de pareceristas que incansavelmente e de modo primoroso vem contribuindo de modo muito significativo com a manutenção da revista Rua, bem como à equipe de editoração da revista, desejamos excelente leitura à nossa querida roda de leitores que são a razão da existência da Rua.



RESENHA
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ARTES
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