A partir da Análise de Discurso, em articulação com os Estudos Pós-Coloniais, este artigo discute os sentidos de humanidade e liberdade atribuídos a Sarah Baartman (1789–1815), figura central na construção do imaginário colonial europeu, conhecida como Vênus Negra ou Vênus Hotentote. O corpus é composto por cartas e propaganda publicadas na imprensa britânica entre setembro e outubro de 1810, quando de sua exibição pública em Londres. A análise das regularidades discursivas que atravessam esses textos demonstra a contradição fundante do discurso liberal abolicionista, que, ao mesmo tempo em que denuncia a escravidão formal, legitima novas formas de exploração sob o signo da liberdade contratual. Conclui-se que os processos de significação em torno de Baartman são fundamentais para compreender os deslocamentos do racismo científico e da lógica colonial entre os séculos XIX e XX. Palavras Chave: Sarah Baartman; Análise de Discurso; Estudos Pós-Coloniais; Racismo Científico.
Abstract:
Anchored in Discourse Analysis and articulated with Postcolonial Studies, this article examines the meanings of humanity and freedom attributed to Sarah Baartman (1789–1815), a central figure in the construction of the European colonial imaginary, known as the Black Venus or Hottentot Venus. The corpus consists of letters and advertisements published in the British press between September and October 1810, during her public exhibition in London. The analysis of discursive regularities across these texts reveals the foundational contradiction of abolitionist liberal discourse, which, while denouncing formal slavery, simultaneously legitimizes new forms of exploitation under the banner of contractual freedom. The study concludes that the processes of signification surrounding Baartman are key to understanding the shifting contours of scientific racism and colonial logic from the nineteenth to the twentieth century. Keywords: Sarah Baartman; Discourse Analysis; Postcolonial Studies; Scientific Racism.
Para citar essa obra: ALMEIDA, Ariane; MACHADO, Isadora; Sarah Baartman e os paradoxos da liberdade. In: RUA [online]. Volume 31, número 1 - e-ISSN 2179-9911 - Junho/2025. Consultada no Portal Labeurb –
Revista do Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade.
http://www.labeurb.unicamp.br/rua/
*Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia. Mestranda no Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Estadual de Campinas (IEL/Unicamp). Bolsista CAPES ORCID: https://orcid.org/0009-0002-6514-6329. E-mail: arianelrds13@gmail.com. **Escritora, linguista e ativista antimanicomial. Professora Adjunta do Instituto de Letras na Universidade Federal da Bahia. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura da UFBA (PPGLinC). Líder da GrupA (Grupo de Práticas em Semântica e Discurso – UFBA/CNPq). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0194-927X. E-mail: isadoram@ufba.br.