Revista Rua


Jornal e poesia: o Alencar espelhado no discurso da língua
Newspaper and poetry: the Alencar mirrored in the speech of language

Atilio Catosso Salles

O dizer não é propriedade particular. As palavras não são só nossas. Elas significam pela história e pela língua. O que é dito em outro lugar também significa em “nossas” palavras. O Sujeito diz, pensa que sabe o que diz, mas não tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem nele.
Daí pensarmos o lugar de constituição da memória dessa língua nacional no século XIX, em que Tavares e Taunay, num gesto duplo, significam-se no mesmo modo em que a língua está inscrita pelos processos de identificação na relação sujeito/língua/nação.
Nessa direção, Mariani (2004) discute a importância primeira da compreensão histórica dos processos de produção de sentidos no modo como o sujeito irá se significar na/pela língua. A autora aponta que as produções de sentidos estão entrelaçadas a diferentes lugares ocupados pelo sujeito em dada formação social, assim, há a possibilidade de sujeitos, a partir de uma mesma língua, significarem-se de maneira diferente.
Na mesma perspectiva, Payer (2006) afirma que o ritual discursivo, seja em qualquer conjuntura dada, estabelece uma relação intrínseca com a memória, a partir da circularidade na sociedade e na história. Assim, a forma-sujeito articulista/poeta (ocupando as mesmas posições sujeito) do XIX está afetada por uma memória de um discurso literário no modo como circula e significa a relação língua/sujeito/mundo. Dessa forma, a língua supõe memória, ao ser passível de repetição para significar-se, e os sentidos, que a constituem, circunscrevem formas-sujeito escritor que se estruturam diferentemente, de acordo com a posição ideológica que assumem.
A identidade de uma nação, no espaço do século XIX, aspira à construção de uma natureza que nos remete a apreciação de um contexto grandioso e harmônico. Como recurso estilístico, o articulista/poeta brinca com jogos de personificação, remetendo-nos à elevação destes elementos naturais tidos como nacionais e/ou específicos de uma nação: “[...] gigantesco berço/eleva-se as supremas regiões à vista dos verdejantes palmeiraes de sua terra natal, à hora em que o sabiá descambar do sol desprende melancolicamente sua última endeixa [...]”. (TAVARES J. ano I, 1879).
Esse funcionamento discursivo, representado na citação de Tavares – próprio da língua, conforme Pêcheux (2004) – é significado, de certo modo, a partir de um saber suposto da escrita poética, circunscrevendo a criação de um mundo e admitindo a ficção da própria língua, do mundo. Nesse sentido, Almeida (2010, p.7) afirma que