Mostra de Pesquisas II - Caixas que se abrem: leituras
Gravado em 27/11/2019

Um jardim e um quintal com árvores de frutas, de flores, de verdes em tons variados, quase inumeráveis, de copas altas e raízes grossas compõem a imagem com canteiros de ervas, redes e balanços. Entre esses dois espaços, uma casa sem forro, deixando à vista telhas e a geometria do telhado; no chão, um piso rústico; num canto, um fogão a lenha e, em algumas paredes, grandes janelas emoldurando a paisagem de fora, quando abertas. A sala, embora seja de um centro cultural, é como uma sala de casa: sofás, almofadas, mantas, cortinas, armários, tapetes e muitos bordados. Imagens que chamam os olhos e são como poesia convidando à sua leitura. Este é o cenário onde se desenvolveu a elaboração do artefato de leitura que será apresentado, fruto de uma pesquisa que investigou práticas de leitura junto a artistas e educadores, tendo como principais referências: Michel de Certeau (1995) no que tange à produção de sentidos pelos sujeitos, Roger Chartier (1996) em relação às práticas de leitura e suportes de textos, Jorge Larrosa (2017) e Walter Benjamin (1994), quanto a experiência. A proposta compreendeu encontros para leituras de textos de Infância Berlinense: 1900 (BENJAMIN, 2004), reverberando no corpo, levando à dança provocada pelas memórias despertas. No primeiro encontro, a propositora da pesquisa levou um texto impresso, com suas páginas agrupadas por fitilhos ou por tiras de tecidos formando uma lombada, tendo como suporte uma caixa de madeira que abrigava, além do texto fotocopiado, um vidro com água de cheiro de alfazemas de seu jardim. Cada leitor recebeu sua caixa e escolheu um lugar para ler. Um lugar que, praticado, aos poucos se tornava espaço, assim como o texto era mobiliado (CERTEAU, 2014) e os corpos criavam novos textos. Ao longo do processo, cada leitor ia transformando sua caixa: teve quem bordasse a tampa; outros as mantiveram “cruas” por fora, mas todos as rechearam com os demais textos, fotografias, poesias e outros materiais referentes às memórias que surgiam nas leituras. Petit (2009) diz que imagens, espaços, texturas, perfumes, movimentos são trazidos por escritores, a partir de suas impressões sensoriais, para serem condensados nas páginas a que o leitor terá acesso e das quais se apropriará, fazendo surgir outras paisagens, outras impressões e percepções, não como uma transposição, mas como metáforas – algumas, nesse projeto, ganharam materialidade. Essas caixas, transformadas, foram deflagradoras do que foi pesquisado e vivenciado e também se mostraram constitutivas dos sentidos dados aos textos e às práticas de leitura. Como resultado final da pesquisa, um texto acadêmico e poético, com palavras, fotografias e minicontos, impresso em papel, envolto em tecido, fechado com fio de sisal, cujo título é escrito em letra cursiva numa almofada de tecido branco com pespontos vermelhos e essência de alfazemas, dentro de novas caixas, cujas tampas, únicas, foram confeccionadas artisticamente por pessoas que participaram do projeto.