Cidade e futebol: um acontecimento político nos escritos em Cuiabá
Ana Di Renzo Ana Luiza Artiaga R. da Motta
A placa (fig.05) media a relação do sujeito com o espaço, expõe sentidos. A tarja que recobre a placa silencia acontecimentos que mediaramaescritura no tecido urbano, na cidade de Cuiabá-MT. Interdita,desestabiliza sentidos no trânsito urbano que sofre a interpelação de se readequar em função do jogo da Copa do Mundo.Umaleitura interdita, mas apresentificaçãoda ação do Estado permanece.A cidade se mexe. Os dribles se dão pelos desvios. Pelos sentidos interditados.
O evento futebolístico movimenta a estrutura da cidade, determina o replanejamento, o fluxo, a mobilidade urbana. A palavra mobilidade torna-se pedra de toque, de uso fluído, no discurso veiculado pela mídia, pelo Estado, e por transeuntes que em confronto com os espaços modificados evocam sentidos.
Considerações finais
A cidade constitui um espaço físico que se dá a ler, a interpretá-lo. Do ponto de vista deLefebreve(2001),a cidade é uma rede de poder ao que acrescentaríamos pelos estudos discursivos que a cidade é uma rede de sentidos, de trocas, traços que mediatizam os interlocutores.
Concluímos esta reflexão, entendendo que o discurso é opaco e que a escritura urbana constitui um espaço importante de leiturano real atravessado por distintas formaçõesideológicas. No caso das placas, no espaço da cidade,produz a interpelação ideológica. Dessa forma, faz-se necessário observar,no espaço da formulação, o movimento da língua em que se constitui o sentido. No caso do discurso de mobilidade urbana que mediatizaas cidades-sede,há que se perguntar sobre os sentidos transversos que se inscrevem e faz movimentar a memória o acontecimento.
Em suma, as distintas formulações que tomamos para análise fazememergir pela sintaxe da língua que se faz necessário questionar a opacidade da escrita. Que o discurso não é por si um gesto simples, mecanicista.
De forma naturalizada,o discurso futebolístico quemundializaas relações, unifica o desejo de ganhar a Copa do Mundo e,consequentemente, modaliza o movimentodas cidades, o país. Trata-se de um efeito ideológico, gesto que intervém no real do sentido de cada cidade que seredesenhouem 2014. Assim, abrem-se fendas no chão de Cuiabá, o tecido urbano é rasgado pelas trincheiras,e a morfologia que sustenta a cidade se remodelaem prol dodrible da bola, do jogo, que perduraem dois temposde 45minutosquesomam90minutos e que eternizará “para sempre” 2014 enão a cidade, nem seus sujeitos.