Discurso urbano e enigmas no Rio de Janeiro: pichações, grafites, decalques


resumo resumo

Bethania Mariani
Vanise Medeiros



grafite é por ela legitimado. Duas leis, portanto, as fazem significar diferentemente[7]: uma é posta como sujeira; a outra, como arte; e assim sentidos vão sendo produzidos sobre a cidade a partir da normativização do urbano. Vamos aqui recuperar um documentário sobre pichação – Pixo[8] – a fim de pensar um pouco mais tal prática e, como é nosso objetivo, refletir sobre as inscrições nos muros da cidade.

Vários são os depoimentos neste documentário proferidos por parte do sujeito que picha: “pixo[9] é agressão”, “pixo é audacioso”, não é arte”, “não tem nada de grafite não”; “arte como crime; crime como arte”[10]; é “esporte da periferia”; é um lazer”; é “arte que fica no limite da vida”; “se fosse igual ao grafite, ninguém estava fazendo”; é “protesto”, é “grito da periferia”. São, pois, enunciados que denunciam a fronteira da arte, o risco da vida, o gesto que transgride, o grito. E também a escrita: “agente verticalizador das letras” de uma cidade que funciona como “caderno de caligrafia gigante”. No documentário, uma narrativa, tecida pelos depoimentos dos pichadores, traz uma história da pichação/grafite: as pichações teriam sua origem em Nova Iorque nos logos das bandas de rock que, por sua vez, se inspiraram nas escritas dos primeiros alfabetos dos bárbaros na Europa. Letra que se faz escrita e que se faz letra-escrita, as pichações surgiram nos anos 80 em São Paulo, continua o narrador, como desdobramento do movimento punk. Antes do que ele vai apontar como pichação, durante a ditadura no Brasil, o que se tinha nos muros, nas viaturas policiais e nos transportes eram enunciados como “Abaixo a ditadura”, escritos numa estética legível para qualquer um ler”. A elas se seguiram pichações poéticas, a que nos referirmos anteriormente. Uma observação nossa: elas continuam existindo, e a elas se acrescentam os decalques, como já mostramos. A pichação, feita com spray, não é, seguindo o depoimento, para “qualquer um ler”. “Os símbolos formam uma língua, mas não aquela que você imagina conhecer”, nos avisa Calvino (1993). Nela, pichação, se tem uma escrita outra, uma estética outra que faz da cidade um imenso caderno... indecifrável para uns e legível para outros... uma cidade que berra! Ou ainda, com Orlandi (2012):

 

 

No que tange à pichação, a mais recente lei é a que comparece no artigo 65 (lei de crimes ambientais) número 9.605/98. Já o grafite foi retirado da criminalidade com a Lei n. 12.408/2011.

É interessante observar a resistência que se faz também pela ortografia grafando-se com x, pixo, e não com ch, da oficial, picho.

Este enunciado é de uma pichação em um prédio em SP que aparece no documentário em foco.



[7] No que tange à pichação, a mais recente lei é a que comparece no artigo 65 (lei de crimes ambientais) número 9.605/98. Já o grafite foi retirado da criminalidade com a Lei n. 12.408/2011.

[8] É interessante observar a resistência que se faz também pela ortografia grafando-se com x, pixo, e não com ch, da oficial, picho.

[9] Vamos manter a grafia do título do filme e dos enunciados que aparecem por escrito

[10] Este enunciado é de uma pichação em um prédio em SP que aparece no documentário em foco.