O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



Aí iniciou, em minha opinião, o desmonte da Educação Pública, pois os professores não estavam preparados para essa mudança. Aos currículos foram introduzidos improvisadamente cursos profissionalizantes sem preparar os professores para esta tarefa. Tais cursos, na verdade, não profissionalizavam ninguém e as poucas escolas técnicas até então existentes foram mal aproveitadas.

Tomo, para falar do que se passou nas escolas, na década de 70 do século passado, o caso específico da disciplina de Língua Portuguesa, espaço em que atuava naquele momento. Os professores da Escola Pública, acostumados a trabalhar com alunos oriundos da Classe Média, não estavam preparados para lidar com a variedade linguística dos filhos das classes trabalhadoras que passaram a frequentar suas salas de aula. Em função disso, tacharam tal variedade de errada, tanto em sua modalidade oral como escrita.

Se a variedade de língua materna com a qual esses sujeitos se identificavam e por seu viés se subjetivavam era (é) considerada “errada” e se os professores não sabiam(sabem) como conduzi-los na passagem dessa variedade linguística à língua padrão, esses sujeitos foram condenados a permanecer à margem, foram  literalmente silenciados, separados do mundo ao qual a escola deveria dar-lhes acesso. Não é, pois, de admirar o surgimento do mito de que “a língua portuguesa é difícil” e que “não sabem nada de português”. Ouvi isso reiteradamente, a cada vez que respondi à pergunta sobre que disciplina lecionava. E até mesmo os alunos de Letras pensavam assim.

Trago uma reflexão de Pêcheux para promover um melhor entendimento do que se passava então (e, na minha opinião, ainda se passa) na Escola Pública: toda língua, nos diz ele, através de suas estruturas está necessariamente em relação com o “não está”, o “ainda não está” e até mesmo com o “nunca estará”. Nela [na estrutura da língua] “se inscreve assim a eficácia omni-histórica da ideologia como tendência incontornável a representar [...] os fins últimos, o alhures e o invisível. (Pêcheux, 1982/1990, p. 9) (O destaque é meu.). Essa foi e, em minha opinião, ouso dizer que ainda é a formação ideológica que sustentou então e ainda embasa a prática de sala de aula de Língua Portuguesa na Escola Pública.

Ou seja, a democratização da Escola Pública foi uma ilusão, uma fachada para continuarem a ser reproduzidas as desigualdades presentes na estrutura social. Ou seja: foi implantada uma mudança para que tudo continuasse como estava: manter o povo alijado da Educação. Concretamente, o Estado democratizou o acesso à escola, ao seu