“O skate invade as ruas”: história e heterotopia


resumo resumo

Leonardo Brandão



grande de espaço que flutua no imenso mar. Mas em nosso caso particular, parece que a heterotopia também pode ser a própria prancha de skate, minúsculo pedaço – comparado com o navio – mais leve que ele, certamente, metáfora do que se passa no século XX e não mais no XIX.

Em Foucault há vários tipos de heterotopias: abertas, fechadas, menores, maiores, umas que parecem fascistas, outras não. Todas são espaços que incluem dentro deles vários espaços que seriam incompatíveis. Mas o Street Skate é interessante porque é um espaço que literalmente corre, sai do lugar, não tem lugar e é da sua essência não ter um. O skate corre sobre os espaços da cidade e é um objeto ao mesmo tempo próprio (do skatista) e exposto a todos. É um solo constantemente deslocalizado, um lugar sem lugar (porque se ele tiver um lugar já deixa de ser o que é). Diferente do navio, um espaço fechado dentro de outro, que oferece conforto, luxo e segurança, o skate seria uma heterotopia mesmo da insegurança, do mínimo necessário, da raridade das coisas para se apoiar, do espaço rarefeito... O skate reenvia a imaginação ao tempo dos primeiros barqueiros, que não tinham nada a não ser uma pinguelinha de barco, prestes sempre a virar. Reenvia à figura do andarilho, despojado e exposto.

Ao observarmos a emergência do Street Skate durante a década de 1980 encontramos um exemplo concreto de heterotopia! Pois o que era deslizar sobre um skate senão conquistar algum estilo de vida que estivesse sempre mais próximo da diversão e da rebeldia? Tratava-se, fundamentalmente, de inventar novos modos de subjetividade, de leituras e de uso, intempestivo, do corpo no espaço. Evidentemente, isso implicava uma disponibilidade para o desejo, para um tempo de satisfação, de invenção de si e, sobretudo, de re-criação.

 

Referências bibliográficas

ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Scritta, 1994.

BARROS, José D’Assunção. O campo da história: especialidades e abordagens. Petrópolis: Vozes, 2004.

BRANDÃO, Leonardo. Por uma história dos “esportes californianos” no Brasil. Tese (Doutorado em História), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, 2012.

BRANDÃO, Leonardo. “O surfe de asfalto”: a década de 1970 e os momentos iniciais do skate no Brasil. In BRANDÃO, Leonardo; HONORATO, Tony (orgs). Skate & Skatistas: questões contemporâneas. Londrina: Ed. UEL, 2012.