Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



mais um nível (superior à frase) dentre outros níveis da língua (fonológico, morfológico, sintático...), mas um objeto teórico que resulta de um olhar diferente sobre todos eles, que considera que a exterioridade (o sujeito, o mundo) afeta o interior do sistema lingüístico, qualquer que seja o nível  focalizado[1] (cf. ORLANDI, 1983).

            A partir do que foi posto, podemos voltar à questão do caráter imediato, não consciente, da percepção sensível, que faria desta um fenômeno anterior e independente da linguagem, afirmando que, de uma perspectiva discursiva, a linguagem não funciona no nível da representação consciente, mas por esquecimentos dos fatores sócio-históricos e políticos (ideológicos) que a determinam (cf. PÊCHEUX, 1974/1975/ 1988); daí a afirmação de Pêcheux de que o inconsciente e a ideologia se encontram materialmente ligados no funcionamento do discurso.

É partindo dessa perspectiva que abordamos a questão do sentido, nossa porta de entrada, enquanto especialistas da linguagem, para a discussão sobre as ambiências urbanas. Se a percepção sensível para Dewey, como havíamos visto, convoca um trabalho de interpretação, de atribuição de sentidos, o que nós postulamos é que esses sentidos são materiais, são elaborados em e através da materialidade da língua. Essa é uma questão central na concepção de linguagem que, enquanto intelectual filiado ao materialismo histórico, Pêcheux assume na teoria que desenvolve, numa crítica à visão idealista segundo a qual os sentidos estariam constituídos independentemente da língua, para depois serem “veiculados” por ela:

 

É, pois, sobre a base dessas leis internas [da língua] que se desenvolvem os processos discursivos, e não enquanto expressão de um puro pensamento, de uma pura atividade cognitiva, etc., que utilizaria ‘acidentalmente’ os sistemas lingüísticos. (PÊCHEUX, 1975/ 1988: 91).

 

[1] Essa concepção marca a diferença da AD em relação a outras teorias semânticas, pragmáticas e mesmo discursivas, que re-introduzem uma reflexão sobre o sujeito e o contexto na análise da linguagem, mas sem questionar a autonomia do “núcleo duro” do sistema lingüístico, mantendo a dicotomia língua/fala, postura que acarreta diferenças teórico-metodológicas importantes.