A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico


resumo resumo

José Horta Nunes



"territórios") distintos, Portugal e Brasil, e que levam a diferentes objetos. Em Portugal, há uma diferenciação entre o geográfico e o administrativo (“divisão territorial” versus “autarquia local”), que no caso brasileiro estão incluídos heterogeneamente no mesmo objeto. Isso mostra que na Wikipédia, instrumento globalizado, o verbete significa os dois territórios diferenciados na língua ("idioma"), o que implica dois modos de construir o objeto-cidade. Chegamos com isso ao discurso do Estado, pois município é o termo adotado pelo Estado brasileiro, em sua Constituição, para significar uma das unidades resultantes da divisão territorial: "A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal" (Art. 18, § 4º). Assim, o discurso do Estado incide sobre esse enunciado definidor, configurando a cidade jurídica e administrativa, de modo que cidade e Estado estão aí estreitamente ligados. A formação discursiva jurídica sustenta a estabilidade desse objeto, marcada por seu discurso de fundação pelos Estados da Federação. Em suma, no plano global, o discurso jurídico estabiliza de modo geral os sentidos (“divisão territorial”, “divisão administrativa”), porém há uma instabilidade que produz uma duplicidade de objetos (município e concelho) na mesma formação discursiva. Considere-se, finalmente, que não há relação estabelecida no verbete entre município e cidade.

 

Metrópole

Metrópole, da língua grega metropolis (μήτηρ, mÄ“tÄ“r = mãe, ventre e πÏŒλις, pólis = cidade), é o termo empregado para se designar as cidades centrais de áreas urbanas formadas por cidades ligadas entre si fisicamente (conurbadas)1 2 ou através de fluxos de pessoas e serviços1 ou que assumem importante posição (econômica, política, cultural, comercial, etc.) na rede urbana da qual fazem parte (correspondentes, na classificação do IBGE,1 às metrópoles nacionais e regionais).

 

Nesta sequência, nota-se primeiramente que a palavra de entrada “metrópole” é substituída por "termo", o que a situa no interior de uma campo de saber. Em seguida, temos por co-referência que metrópole é retomada como "cidades centrais de áreas urbanas". Considerando que, como notamos anteriomente, “cidade” é significada como "urbe" e não como município, ou seja, com dominância do discurso urbanista (“área urbana”, “população”) e não do discurso jurídico (“divisão territorial”), vemos que a memória do urbanismo constitui o objeto "cidade central". Em seguida, o sintagma "áreas urbanas" é determinado por "formadas por cidades ligadas entre si fisicamente (conurbadas) ou através de fluxos e serviços ou que assumem importante posição (econômica, política cultural, comercial, etc.) na rede urbana da qual fazem parte".