Cidade e futebol: um acontecimento político nos escritos em Cuiabá


resumo resumo

Ana Di Renzo
Ana Luiza Artiaga R. da Motta



Figura 4

 

Na fig.03 se lê: “Nunca um governo fez tanto por Mato Grosso”, “56 obras”.  Na formulação, o advérbio “nunca” temporaliza, determina a posição política do Estado, o governo, em relação à Mato Grosso. Em “Nunca um governo” silencia o investimento FIFA e produz como efeitos de sentido um revestimento ideológico do papel do governo: é ele quem fez 56 obras. Para Orlandi “há um modo de estar em silencio que corresponde ao modo de estar no sentido [...] Há silencio nas palavras” (ORLANDI, 1995, p.11). Isto posto, ao enunciar, o sujeito diz para não dizer, pois a palavra traz consigo também sentidos silenciados, posto que o silêncio também significa. Ou seja, os sentidos não formulados também convocam gestos de interpretação. Por isso, mesmo que ao dizer o sujeito não diz, aponta para o trabalho da ideologia na linguagem e mostra que o silencio é igualmente afetado por ela.

A placa exposta no espaço, de fluxo intenso, na cidade remete a efeitos de imediatismo. Isto é, em quatro anos, 56 obras. A formulação reverbera sentidos sobre o que não se diz, mas que a memória faz funcionar. Ou seja, tem-se um acontecimento, a copa do mundo, no poder local, que desestabiliza sentidos e apagam-se outros que se constituem no processo sócio-histórico e político de Cuiabá que soma em 2014, 294 anos. Nessa linha de raciocínio, enunciados como “Perigo, trecho em obras”, tem-se um substantivo que produz como efeitos de sentido a responsabilização dos sujeitos pelos cuidados de si, pois a cidade está sendo remodelada sob a tutela do Estado que é quem chama a sua atenção para a situação de risco. Sentidos que se repetem também em outras capitais de estados brasileiros que sediaram os jogos da Copa do Mundo de 2014,