Produzindo o sentido de um nome de cidade


resumo resumo



constituído na outra língua (Rio de Janeiro)[4]. E esta já é uma questão importante sobre o funcionamento dos nomes próprios, do que não trataremos especificamente aqui. E é isso que nos leva às paráfrases (7) e (8). Não se tem algo semelhante para (1).

 

O Eco de uma Canção

Mas há um acontecimento particularmente decisivo na circulação desta relação de sentidos, que significa no acontecimento de enunciar Rio de Janeiro – cidade maravilhosa: a marchinha de carnaval de André Filho, Cidade Maravilhosa, composta para o carnaval de 1934 (também, portanto, do início do século XX). Esta marchinha se instala como um hino para a cidade do Rio de Janeiro. Nesta marchinha há um refrão de força poderosa, no domínio de sentidos que analisamos:

 

Cidade maravilhosa, Cheia de encantos mil

Cidade maravilhosa, Coração do meu Brasil

 

Aqui temos duas expressões de estrutura nominal, cada uma constituída por reescrituração especificadora.

Os versos do refrão se articulam numa relação de sujeito a predicado com És o altar dos nossos corações/ Que cantam alegremente. Poderia aqui buscar a conexão entre a metáfora do coração de cada um dos habitantes do Rio e a do coração do Brasil. Mas isto não é o que me interessa neste momento, embora não possa dizer que isto seja irrelevante para minha argumentação.

A articulação predicativa Cidade maravilhosa, Cheia de encantos mil / Cidade maravilhosa, Coração do meu Brasil / És o altar dos nossos corações/ Que cantam alegremente, além da presença de cidade maravilhosa como um outro nome para o Rio de Janeiro, traz uma nova atribuição de sentido, ser altar dos nossos corações que cantam alegremente. Mais que isso, ainda, a cidade maravilhosa está no refrão como um vocativo, ou seja, é com ela que o poeta fala. O que também está claramente significado pelo és do verbo que introduz o predicado. A marchinha constitui assim uma relação do locutor-poeta(lírico) ao alocutário-cidade. Por outro lado, o eu lírico do poeta fala a partir de um enunciador coletivo que o nossos de “nossos corações” claramente



[4] Este aspecto permitiria colocar a questão do espaço de enunciação no Brasil da época. Isto levaria à análise da relação entre a língua francesa e a língua portuguesa do Brasil e como elas determinavam seus falantes neste espaço de enunciação.