Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



Insistindo no caráter imediato da experiência, Dewey não retoma a concepção do empirismo clássico, mas antes aquela que, a partir de Hegel, faz valer a presença do todo nas partes. O que opera na experiência imediata não são impressões sensíveis brutas, isoláveis e discretas (sense data), resultados elas também de uma construção teórica a posteriori, é a situação ela mesma tomada em sua globalidade, antes de toda tentativa de diferenciação e de distinção das partes que a compõem.

[En insistant sur le caractère immédiat de l’expérience, Dewey ne reprend pas à son compte la conception de l’empirisme classique mais bien plutôt celle issue de Hegel faisant valoir la présence du tout dans les parties. Ce qui est en œuvre dans l’expérience immédiate ce ne sont pas des impressions sensibles brutes, isolables et discrètes (sense data), issues elles aussi d’une construction théorique a posteriori, c’est la situation elle-même prise dans sa globalité, avant toute tentative de différentiation et de distinction des parties qui la composent.] (ibidem)

 

E é precisamente aí que a questão da linguagem comparece, sendo situada nesse nível consciente posterior ao ‘universo da experiência’, regido por mecanismos não conscientes:

 

“O universo da experiência é a precondição do universo do discurso. Sem o controle do universo da experiência, não há nenhum meio de determinar a conveniência, o peso ou a coerência de uma distinção ou de uma relação dada. O universo da experiência rodeia e rege o universo do discurso, mas não aparece jamais enquanto tal neste último” (Dewey 1993, p. 130). Como dar conta desse ‘universo da experiência’ que subentende a própria possibilidade da linguagem articulada?

[L’univers de l’expérience est la précondition de l’univers du discours. Sans le contrôle de l’univers de l’expérience, il n’y a aucun moyen de déterminer la convenance, le poid ou la cohérence d’une distinction ou d’une relation donnée. L’univers de l’expérience entoure et régit l’univers du discours, mais n’apparaît jamais en tant que tel dans ce dernier » (Dewey 1993, p. 130). Comment dès lors rendre compte de cet ‘univers de l’expérience’ qui sous-tend la possibilité même du langage articulé?] (ibidem)

 

Essa é sem dúvida uma passagem densa e que mereceria uma análise mais aprofundada. Reteremos apenas, para a presente discussão, dois aspectos. Em primeiro lugar, podemos dizer que o que nela está em jogo é um questionamento da relação entre a linguagem (o ‘universo do discurso’) e sua exterioridade (o ‘universo da experiência’, isto é, o sujeito da percepção, o mundo ao redor); em segundo lugar, vemos esboçada uma certa crítica à visão racionalista da realidade humana, pelo reconhecimento do caráter não consciente dos mecanismos que a determinam, tal como destaca Thibaud (ibidem) no seguinte trecho: