Quando os espaços se fecham para o equívoco


resumo resumo

Suzy Lagazzi



atribuem cada um a si e ao outro, a imagem que eles se fazem de seu próprio lugar e do lugar do outro”. Completando a tríade, o autor traz as “regras de projeção”, que estabelecem as relações entre as situações e as posições. Ou seja, estamos falando do que é possível o sujeito antecipar a partir das determinações que o constituem e que definem sua posição no discurso.

Em Era uma vez... o funcionamento da antecipação é muito significativo, já que o filme contrapõe o morro ao bairro, com muitas decorrências que isso traz. Tomando as derivas possíveis a partir da dicotomia pobres e ricos, Era uma vez... enfatiza, no que tange ao morro, a relação deste com o tráfico, a bandidagem e a violência, substantivos que compõem, na estabilização social dos sentidos, a mesma família parafrástica da qual fazem parte pobre e pobreza. Como o morro abriga tanto o pobre quanto o bandido, estes ficam imaginariamente congregados num mesmo espaço, no qual as fronteiras dos sentidos se diluem e o pobre se torna um bandido em potencial. Assim, ser identificado como um morador do morro significa, necessariamente ser pobre e potencialmente ser bandido, traficante, violento e perigoso. Essas imagens deslizam entre si sob o olhar que vem de fora do morro, o olhar do morador do Bairro de Ipanema, “o bairro mais rico do Rio de Janeiro”, e também sob o olhar do morador do morro que não se identifica com o tráfico. O filme focaliza essa questão no jogo das antecipações que vão se produzindo entre os moradores do morro, que não é um só, e entre os moradores do morro e do bairro. Concomitantemente temos a apresentação para o espectador das contingências que vão significando e relativizando muitos dos gestos dos sujeitos, em alguns casos compondo justificativas para a violência e a transgressão.

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