Visões da cidade de Natal: construção identitária a partir do discurso poético


resumo resumo

Marília Varella Bezerra de Faria



Cascudo (1999, p. 52, 53, 94, 95) conta como cresceu a população da cidade: “Quinze dias depois de fundada, ainda estava deserta. [...]. Em fevereiro de 1614, Natal possuía... doze casas. [...]. Em setembro de 1631 as doze casas eram sessenta. [...]. Em 1855, 6.454 almas. [...]. No último ano do século XIX, Natal estava com a população de 16.056”.

Em 1908, inaugura-se o primeiro trecho dos bondes a burro e, em 1911, chegam os bondes elétricos, como também a luz elétrica e os telefones.

Natal precisava assumir sua condição de capital, porém isso somente se torna realidade a partir da República, quando medidas mais específicas são adotadas para tirar a cidade do marasmo. Segundo relata Oliveira (2006, p. 124), “pedia-se, com ênfase crescente, que se modificasse aquela cidade que, para alguns reformadores republicanos, era a expressão do obscurantismo do regime monárquico”.

Apesar de tudo, a cidade chama a atenção de Mário de Andrade, que, interessado em promover a arte e a cultura de diferentes pontos do Brasil, inclui Natal em sua viagem por estados do Norte e do Nordeste do país, de dezembro de 1928 a março de 1929. O poeta assim relata sua impressão sobre seus dois primeiros dias em Natal:

 

Natal, 16 de dezembro ─ Natal era o destino do meu descanso e estou descansando. Gosto de Natal demais. Com seus 35 mil habitantes, é um encanto de cidadinha clara, moderna, cheia de ruas conhecidas encostadas na sombra de árvores formidáveis. De todas estas capitais do norte é a mais democraticamente capital, honesta, sem curiosidade excepcional nenhuma. [...] um ar de chacra que a torna tão brasileiramente humana e quotidiana como nenhuma outra capital brasileira, das que conheço (ANDRADE, 1983, p. 232-233).

 

Nessa “encantadora cidade”, no inverno de 1941, chegam os primeiros americanos para iniciarem a instalação da Base Aérea. A guerra estava deflagrada e se tornava imperioso um ponto estratégico para as operações militares norte-americanas. Natal figurava como o ponto mais próximo da África ─ o “Trampolim da Vitória”, um campo aberto à aviação e à expansão. É, ainda, Mário de Andrade quem registra: “Essa felicidade americana de Natal está se objetivando neste momento com a inauguração do Aero-Clube [...]. Os aeroplanos estão pintando o sete no ar” (ANDRADE, 1983, p. 255).

Com o fim da guerra, quase cinco anos depois, os americanos se despedem. Ao saírem, deixam, além de uma parafernália bélica, uma cidade onde o tempo e o espaço assumem uma nova dimensão. Repentinamente, tanto Natal quanto seus habitantes têm