Cidade e futebol: um acontecimento político nos escritos em Cuiabá


resumo resumo

Ana Di Renzo
Ana Luiza Artiaga R. da Motta



A cidade convergida na escritura da Copa do Mundo se espacializa nos dizeres do Estado. Placas sinalizam em letreiros a mobilidade do transeunte e remetem às obras em concreto armado em viadutos. Estas apontam para um mesmo dizer que se repete, funcionando ideologicamente sobre diferentes discursos políticos que antecedem 2014, em Cuiabá-MT.

Nas placas, as escritas (fig.01) e (fig.02), enunciada pelo Estado, expõe o jogo de sentidos entre a obra do viaduto e a formulação “mais uma obra do GOVERNO DO ESTADO”. Esta inscrita, entre o branco e o azul, afloram sentidos, nas diferentes formações discursivas - a escrita e as cores - que remetem a Bandeira de Mato Grosso. No dizer “2014 será para sempre”, o Estado se coloca em uma posição futurística em que não se diz por que 2014 será uma data que edifica uma memória discursiva. Há um apagamento da filiação de sentidos que determinaram a construção do viaduto em Cuiabá. Ou seja, as construções filiam-se às cidades-sede, a um acontecimento de categorização mundial, os jogos da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.

Na formulação “mais uma obra”, o advérbio “mais” de intensidade enuncia a efusão ideológica daquele que está fazendo muito e que ao escrever, inscreve-se, faz circular sentidos à cidade. O Estado, discursivamente se coloca como aquele que edifica pelo concreto das construções uma memória que se perpetuará para sempre. De modo que nos enunciados, as escritas abrem para interpretação, a interpelação da posição do Estado e como este tende a se inscrever e a se fazer querer perpetuar no espaço ao referir-se que “2014 será para sempre”.

Nessa linha de raciocínio tem-se um discurso que se quer se fazer como fundador pela flexão do verbo ser – será – flexionado no futuro do presente em que se lê “2014, será para sempre”. Será? Com que sentido? Institui-se um marco na linha do tempo em que os efeitos de sentido de 2014 não se encerram ao término dos doze meses. Ou seja, os sentidos não se fecham, os escritos evocam o acontecimento da Copa do Mundo, em Cuiabá. Esse fato reverbera sentidos e é o que faz inscrever o poder local em uma memória que não se lê/lerá como nacional, mas mundial. A questão é pensar, pelo funcionamento da língua, como o Estado concebe a sua inscrição de poder no espaço urbano. Rancière (1995, p. 08) diz que:     

 

A escrita é política porque traça, e significa, uma re-divisão entre as posições dos corpos, sejam eles quais forem, e o poder da palavra soberana, porque opera uma re-divisão entre a ordem do discurso e a das condições.