Discurso urbano e enigmas no Rio de Janeiro: pichações, grafites, decalques


resumo resumo

Bethania Mariani
Vanise Medeiros



muros, nas pilastras, nas grades, no chão que o sujeito tenta se fazer ouvir, dar a ler esse resto não significantizado.[1]

A posição de trabalho da Análise do Discurso, como sabemos, incide na compreensão do funcionamento das materialidades discursivas “implicadas em rituais ideológicos, nos discursos filosóficos, em enunciados políticos, nas formas culturais e estéticas, através de suas relações com o cotidiano, com o ordinário do sentido. ” (PÊCHEUX, 1981, p. 49, grifo nosso) A compreensão do funcionamento dessas discursividades que imbricam cotidiano e ordinário do sentido supõe um trabalho de entremeio teórico no qual o registro da língua, da história e do inconsciente estão entrelaçados, ou, se quisermos ficar no entremeio pontilhado da Análise do Discurso com a psicanálise, trazemos real, simbólico e imaginário.[2]

2.1 Distinções pontuais

Antes de prosseguir, já trazemos uma distinção entre pichações e o que chamamos de decalques que aqui estamos tomando como inscrição planejada pelo artista, feita em atelier, como forma de intervenção que pode ser repetida, reproduzida.   Na fotografia 1 a seguir, nesse muro de esquina da rua Paissandu, rua que fica no Flamengo, bairro da zona sul carioca, depreende-se a justaposição entre pichações anônimas e decalques igualmente anônimos, mas feitos de formas distintas e produzidos em ateliê: “RUA RUA RUA”, “RITMO DA PRAÇA” e “DEROLE”.  Os decalques geralmente reproduzem palavras, expressões e, eventualmente, desenhos.  Os três decalques abaixo encontram-se espalhados em várias ruas desse bairro (d)escrevendo a própria urbanidade de várias maneiras.  Assim, o decalque “RUA” se dobra sobre a rua, e “RITMO DA PRAÇA” se dobra sobre uma praça que fica próxima. “DEROLE”, por sua vez, escreve  em uma única palavra o movimento urbano do rolezinho, e assim sugere (ou convida?) que se dê rolé.[3]

 

 

 

 

 

 

Algumas dessas reflexões estão em Mariani, 2011 (projeto de pesquisa enviado ao CNPq).



[1] E é, também, nas revoltas, nas lutas, no quebra-quebra, nas passeatas, nos gritos....

[2] Algumas dessas reflexões estão em Mariani, 2011 (projeto de pesquisa enviado ao CNPq).

[3] Observe-se que há, também, um site chamado derole.com.br