A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico
José Horta Nunes
nível'público' das instituições e dos aparelhos ideológicos de Estado" (PÊCHEUX, 1990, p. 55). Nessas condições,os gestos de interpretação estão em movimento, de modo que todo discurso é passível de desestruturações e reestruturações de seus trajetos, de suas redes significantes, de suas relações com a alteridade.
As análises dos objetos-cidades nos levamtambéma fazer algumas consideraçõessobre osprocessos de identificação dos sujeitos.Importa-nosobservarquais são os dispositivos linguístico-discursivos que oscolocam em funcionamento.Ao propor uma “teoria da resistência do sujeito”,Orlandi(2012)traz subsídios teóricos e metodológicos para se pensar as formas deindividu(aliz)ação do sujeito, considerando os processos de interpelação do sujeito, a relação com o Estado (sujeita a falhas), a identificação com as formações discursivas, a constituição de posições de sujeito da sociedade:
“As formas deindividu(aliz)ação do sujeito, pelo Estado, estabelecidas pelas instituições e discursividades, resultam, assim, em um indivíduo ao mesmo tempo responsável e dono de sua vontade, com direitos e deveres e direito de ir e vir. Esse indivíduo funciona, por assim dizer, como um pré-requisito nos processos de identificação do sujeito, ou seja, uma vez individuado, este indivíduo (sujeito individuado) é que vai estabelecer uma relação de identificação com esta ou aquela formação discursiva. E assim se constitui em uma posição sujeito na sociedade. E isto deriva de seus modos de individuação pelo Estado (ou pela falha do Estado), pela articulação simbólico-política através das instituições e discursos, daí resultando sua inscrição em uma formação discursiva e sua posição sujeito que se inscreve então na formação social (posição-sujeito patrão, traficante, Falcão etc.) com os sentidos que o identificam e sua posição sujeito nasociedade. ”(ORLANDI, 2012,p. 228)
Partindo da concepção de que “a ideologia é um ritual com falhas”, a autora vê aía condição para a resistência, para que os sujeitos e os sentidos possam ser outros,“fazendo sentido do interior do não-sentido”. Ressalte-se que, para tratar da questão da resistência, considera-se que ela “está, de um lado, vinculada à relação entre forma-sujeito-histórica e a individuação pelo Estado; de outro, pelo processo de identificação do sujeito individuado com a formação discursiva em sua vinculação aointerdiscurso. ”. Também importa ter em vistaduas formas ideológicas que regem o imaginário citadinona contemporaneidade: “1. O mito da completude (a sociedade como um todo organizado e coeso) criando a interpretação dadesagregação(aquilo que fica fora dela) e 2.emuma perspectiva neoliberal, o fato de que a reciprocidade, asolidariedadecedem lugar à rivalidade, à competição, àmarginalidade.” (ORLANDI, 2011,p. 226)