O discurso na rede eletrônica e o Google: o movimento LGBT em destaque


resumo resumo

Gustavo Grandini Bastos
Dantielli Assumpção Garcia
Lucília Maria Abrahão e Sousa



LGBT. Esse jogo é possível pela relação com os implícitos, que “estão ‘ausentes por sua presença’” (PÊCHEUX, 2010, p. 52).

A constituição da memória é possível pela repetição, processo no qual temos a produção do efeito de convencimento, de produção de evidências, em que parece óbvio que algo só possa ser relacionado a determinados sentidos e não a tantos outros. Inscrever outras formas de ler determinado enunciado parece fugir do que é aceito como evidente, rompendo, assim, com a paráfrase e a ilusão de que os sentidos inscritos devam ser os mesmos para todos. O rompimento com o que é estabilizado marca o acontecimento, afetando a constituição da memória discursiva, já que, por meio dele, é possível a ocorrência da quebra do que era esperado, inscrevendo outros sentidos no espaço discursivo (PÊCHEUX, 2010). Para refletirmos sobre as rupturas produzidas, analisaremos como corpus recortes retirados e selecionados do Google que passam a circular na rede a partir da alteração na lei DOMA.

Consideramos que a memória não pode ser identificada como algo pronto, como se os sentidos estivessem estocados, prontos para serem acessados, lidos, interpretados, de maneira plena, sem furos, nos quais haveria um espaço de plenitude, sem confrontos em que todos os sujeitos interpretariam da mesma forma. Compreendemos que a memória discursiva é um espaço polêmico, de divisões e confrontos permanentes, entre o diferente e o mesmo (PÊCHEUX, 2010). É pelas condições propiciadas pela memória, que o sujeito tem condições de realizar a leitura dos discursos e conseguir estabelecer interpretações, escapando da literalidade e indo além na relação com os discursos. É por conta da memória que o sujeito consegue significar, atribuindo relações com enunciados e sentidos inscritos anteriormente, independentes do discurso que é interpretado no momento (ROMÃO, 2009).

A produção de outros sentidos, na relação com o mesmo enunciado, é passível de ocorrência. O sentido não é dado, não está pronto para ser decodificado, pode sempre ocorrer acontecimentos que rompem com as repetições. Do mesmo modo que, dependendo da formação discursiva na qual o enunciado está inscrito, teremos outras produções de sentidos, por isso o sentido sempre pode ser outro, mas nunca qualquer sentido. A compreensão de que temos alterações de sentidos dependendo de quais formações discursivas estão inscritos os enunciados marca a impossibilidade de pensarmos que a relação discursiva é mera troca informacional, já que é um processo marcado pela tensão entre os sujeitos envolvidos, no qual a memória discursiva afeta as relações dos sujeitos com os sentidos (PÊCHEUX, 1997).