Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



previne de “cairmos uns sobre os outros”. Para a autora, o problema das sociedades capitalistas atuais não é, em primeira instância, o número de pessoas envolvidas, mas o fato de que o mundo entre elas perdeu seu poder de juntá-las, de relacioná-las e separá-las ao mesmo tempo. É como se um grupo de pessoas reunidas em torno de uma mesa, diz ela, como por toque de mágica, visse a mesa subitamente desaparecer do meio, de modo que as pessoas sentadas do lado oposto não estivessem mais separadas, mas também não estivessem mais relacionadas por nada tangível.

Podemos dizer que são esses “tropeços” que resultam do esvaziamento do público pela falta de mediação do poder do Estado, fenômeno comum às sociedades capitalistas contemporâneas, aquilo que vemos materializado na dinâmica das ambiências que caracterizam o espaço público estudado. Contradições que se revelam de maneira tanto mais forte e evidente nas margens desse sistema, na brutal desigualdade que caracteriza a cidade de São Paulo (que pode não ser a mesma de Paris ou Bonn, de Tunis ou Varsóvia, ou mesmo de outras cidades brasileiras), em que na partilha do espaço não restam para alguns senão as migalhas de um pedaço de calçada ou telhado, um chafariz, o pé de uma estátua, o abrigo de uma ponte ou uma marquise, vendo-se reduzidos a um entulho que atrapalha aqueles a quem se dá o direito e os meios de estar e circular na cidade.

 

5. Bibliografia

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