Discurso urbano e enigmas no Rio de Janeiro: pichações, grafites, decalques
Bethania Mariani Vanise Medeiros
1.1 Retomada breve...
Em trabalho anterior(MARIANIeMEDEIROS, 2013), quando focamos as obras que a secretaria municipal se propôs a desenvolver no Rio de Janeiro tendo em vista a expansão do chamado “Porto Maravilha”, analisamos pichações feitas pela prefeitura que, nos processos autoritários de desapropriações de algumas áreas urbanas, produzia o que chamamos dedessubjetivação: em pouco tempo, um morador se via na contingência de sair do lugar onde morava para ser realocado em outro lugar, um lugar a ser definido pela prefeitura da cidade. Destruía-se um espaçoe uma memóriaem nome de técnicas urbanísticas que visariam à melhoria da circulação e da mobilidade. Na destruição do espaço, não teríamos, também, a destruição do sujeito e um apagamento da temporalidade?Esta é uma questão em aberto.
A falta de transparência para essas ações, materializada nas pichações oficiais, transformava o morador, um cidadão, em um sem lugar no corpo da cidade. Como forma de resistência, apresentamos os gestos de um fotógrafo que, com imensas fotografias de rostos de moradores coladas nos muros do bairro, tornava visível o corpo que a prefeitura estava esvaziando de sentido com as desapropriações.Partimos de questões que dizem respeito ao urbano e ao sujeito que aquele trabalho ainda nos suscita.
2–Formulações eInquietações
Entendemos a cidade como umaestruturadinâmicade tempo e espaçoque funciona em ato:como pensamentos articulados, aquelesvinculadas às técnicas urbanísticas que tentam homogeneizá-la de forma pragmática e a-histórica,e pensamentos fora da significaçãousual,funcionandoemoutra lógica, ou seja,pensamentos que furamqualquer possibilidade deinjunção detotalidade para o urbano.(Laurent,idem).Em termos de Análise do Discurso,retomamos a maneira de refletir tal comoOrlandi(2001, entre outras publicações) tem formulado:um espaçosimbólicosempre não-todo atravessado por diversas e distintas discursividades que buscam incessantemente significá-lo. Ou ainda, compreendemos a cidade como um “espacematérielconcretfonctionnantcommeum site designificationquidemandedesgestes d’interprétationparticuliers.”(ORLANDI, 2001, p. 107).Como a Análise do Discursonos alerta,a necessidade designificantizaçãoimpera para o sujeito pragmático (Pêcheux,1990 [1988]),mas frenteao real da cidade,em sua historicidade contemporânea,algo sempre escapa, restos de fricções buscam se fazer ouvir. É nos