O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



estes três casos para representar a diversidade das situações e para apontar sua presença em praticamente todo território nacional.

Algo semelhante teria ocorrido no âmbito do Movimento Sem Terra? Em primeiro lugar, é preciso salientar que a mística, nas práticas do MST, de fato faz ressoar no discurso desse Movimento a memória de sua origem religiosa, porém, a mística, ao ser inscrita no âmbito das práticas do MST, é ressignificada, tomando contornos diferentes. E, o primeiro deles, decorre do fato de que, nesse movimento, não há messianismo[1]. A mística do MST foi efetivamente apropriada da FD Religiosa Católica e inscrita na FD Sem Terra e, ao migrar de um domínio de saber para o outro, carregou consigo traços do religioso, sem, entretanto, visar a experiência divina. Ao contrário. Sua visada é substantivamente terrena, sem nenhum jogo de palavras. Em sua transformação, a mística na FD Sem Terra ritualiza o político e não o religioso. Com base nisso, entendo que  a mística do MST é uma prática político-ritualística que acompanha as ações do MST e, através da quais, a Forma-Sujeito Sem Terra interpela os sem-terra, convertendo-os de indivíduos acampados em sujeitos identificados com os saberes e as práticas do MST. E essa captura se realiza pelo viés do sujeito desejante[2]. Por conseguinte, a mística pode ser vista como um instrumento de formação política, ligado tanto à militância quanto ao recrutamento de militantes.

Para pensar o funcionamento desse sujeito desejante, mobilizei (INDURSKY, 2013) a reflexão de Guattari (1986). Para este autor, a produção da fala, das imagens, do desejo não tem origem no indivíduo. “Essa produção é adjacente a uma multiplicidade de agenciamentos sociais”. (GUATTARI & ROLNIK, 1986: 32) (O destaque é meu). E mais adiante, acrescenta que  a produção do desejo é resultante de pulsões de natureza político-social: “Trata-se, diz Guattari, de movimentos de protesto do inconsciente contra a subjetividade capitalística (sic), através de outras maneiras de ser, outras sensibilidades, outra percepção, etc.” (Ibidem, nota 5: 45) (Os destaques são meus).

Pelo que precede, percebe-se que Guattari alia saberes da Psicanálise a saberes do Marxismo e, assim procedendo, desloca a noção de pulsão do psiquismo do

O rei português D.Sebastião, desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, em 1578, passou a ser esperado e cantado como um novo "messias". Desta espera surgiu o sebastianismo em Portugal e, segundo Jacqueline Hermann (2010), os cristãos-novos, ao desembarcarem no Brasil-Colõnia, trouxeram consigo a espera messiânica.

Em outro artigo - A emergência do sujeito desejante no discurso do MST (2013)- trato especificamente desse traço do sujeito do discurso do MST.



[1] O rei português D.Sebastião, desaparecido na Batalha de Alcácer Quibir, em 1578, passou a ser esperado e cantado como um novo "messias". Desta espera surgiu o sebastianismo em Portugal e, segundo Jacqueline Hermann (2010), os cristãos-novos, ao desembarcarem no Brasil-Colõnia, trouxeram consigo a espera messiânica.

[2] Em outro artigo - A emergência do sujeito desejante no discurso do MST (2013)- trato especificamente desse traço do sujeito do discurso do MST.