A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico
José Horta Nunes
maisampla, em que percebi queosobjetos citadinossão vários, e quese relacionam e se diferem por alguns traços linguístico-discursivos.
Nosso ponto de partida, assim,consiste emque aconstrução discursiva da cidade envolvediferentes objetos de discurso,comsustentação em determinadasformaçõesdiscursivas, que por sua vez estão imbricadas em instituições, em leis, em disciplinas, em procedimentos administrativos, em tecnologias de linguagem,etc..Os objetos discursivos não correspondem a referências empíricas,mas a objetos que se configuramno imaginário ese sustentam emformaçõessociais e ideológicas(cf.PÊCHEUX, 1988 [1975]).Emcada uma das projeçõesimagináriasque configuram os objetos-cidades, notamos a presença de certos discursos constituintes, modos de enunciação,representações espaço-temporais, conceitos,termos, definições,comentários.Quando analisados em suas relaçõesde sentido,os objetosse articulam por meio de extensões, sobreposições, descontinuidades, acréscimos, apagamentos, reconfigurações.
Nesse processo designificação, ocorremfiliaçõesaumcampo deformações discursivas, em quese notam regularidades. Em suaArqueologia doSaber, MichelFoucault(2000)expõeo procedimento de observar os diversos enunciados que nomeiamos objetos,que osrecortam, descrevem explicam,quemostram os desenvolvimentos, indicam as correlações, de talmaneira que esse conjunto de enunciados não são relacionadosa um único objeto, deconteúdo próprio, masa diferentes objetos, que seconstituem nas formações discursivas. Ecom Pêcheux(1990 [1969], p. 83), os objetos de discurso funcionam por meio do imaginário, e assim atentamos para as imagens de cidade que se constituem nos discursos, projetadas a partir de determinadas posições de sujeito Consideramos aindaque as formações discursivasse relacionam com formações sociaise ideológicase que elas se constituem por meio de processos discursivos em que funcionamrelações de substituição, paráfrases,sinonímias, etc.,entre elementoslinguísticos(PÊCHEUX, 1988 [1975]).É issooque confere aos objetos uma regularidade, condicionando sua circulação emespaçosdiscursivosrelativamenteestabilizados -nas leis, nos procedimentos administrativos, nos discursos dos especialistas. Ao mesmo tempo, os objetos de discurso estão sujeitos aequívocos, a falhas que perturbam sua estabilidade,e nesse sentido são "objetos a propósito dos quais ninguém pode estar seguro de 'saber do que se fala', porque esses objetos estão inscritos em uma filiação e não são o produto de uma aprendizagem: isso acontece tanto nos segredos da esfera familiar 'privada' quanto no