“O skate invade as ruas”: história e heterotopia


resumo resumo

Leonardo Brandão



Paralelamente a este skate esportivo, realizado em rampas ou demais pistas específicas para a modalidade, desenvolveu-se também uma outra forma de skate, praticado não em pistas, mas sim em ruas e praças. Esse tipo específico de skate passou a ser conhecido como Street Skate. Diferentemente do “surfinho” que somente deslizava pelas ladeiras, o Street Skate passou a ser uma prática de interação com os mais diversos aparelhos urbanos, como escadas, bancos, guias, muros, degraus, bordas etc. Como escreveu o antropólogo Giancarlo Machado, o Street Skate, como o próprio nome sugere, possui como objetivo principal a prática do skate nas ruas da cidade. No entanto, adverte Machado que essa pratica não se deu com a simples circulação dos skatistas entre pedestres, motos ou outros veículos, mas sim como uma prática de interação “com a dinâmica urbana, tendo em vista a procura por ‘picos’, isto é, equipamentos urbanos dotados de certas características que possibilitassem a prática do Street Skate” (MACHADO, 2011, p. 23).

Este novo uso do skate, que no Brasil tomou forma a partir da segunda metade da década de 1980, engendrava uma forma de ver e utilizar corporalmente o espaço que não era o previsto nem o aceitável institucionalmente. Pois fazer de um corrimão um obstáculo e não um instrumento de ajuda para apoiar o corpo, usar escadas para saltos e não como um auxílio para se passar de um nível ao outro do pavimento são exemplos concretos e localizáveis de heterotopias; isto é, de invenção de outros espaços dentro dos próprios espaços.

Com a emergência do Street, os discursos veiculados nas revistas de skate já não se faziam exclusivamente em prol de sua efetivação como um “esporte radical”. Para além dos vôos alçados nas pistas de concreto ou madeira, esse novo uso do skate nos espaços urbanos ativava formas de enunciações discursivas até então inexistentes (ou pouco relevantes) nessas publicações, incitando a questionamentos e sentidos que fugiam ao par “esporte” e “radicalidade”.

Neste contexto, e para pensarmos a questão das heterotopias, utilizaremos algumas revistas específicas sobre skate publicadas durante a segunda metade da década de 1980. Nosso objetivo aqui não será o de realizar um estudo exaustivo dessas mídias, mas sim identificar como elas retrataram o Street Skate no momento de sua emergência como prática corporal e urbana.