Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



  • os “sem teto”, que se fixam em moradias privadas de maneira ilegal, sem preencherem os requisitos econômicos e jurídicos para tanto (serem proprietários ou inquilinos).

Podemos afirmar, assim, tendo sempre presentes as palavras de Dewey, que os objetos que compõem o aspecto físico do espaço (construções, equipamentos urbanos, monumentos, etc.), os diferentes sujeitos que estão nele e os acontecimentos que se desenrolam são percebidos na relação com um espaço dividido historicamente (economicamente) de certa maneira, entre outras possíveis. Isso aponta para a dimensão política de sua produção, marcada pela disputa pelo direito à ocupação do espaço e pela legitimidade do movimento: quem pode fixar-se e/ou circular por ele, onde e de que maneira. Pensar na divisão público/privado e na desagregação de suas fronteiras permite, desse modo, conceber o espaço como uma unidade perceptiva, em termos sensoriais e de significação, contemplando, ao mesmo tempo, suas contradições, pois os sentidos atribuídos a essa divisão e à partilha do espaço não são homogêneos, mas divergentes, tanto entre as diferentes “comunidades” que convivem nele (moradores de rua, vendedores ambulantes, homossexuais prostitutos, etc.), como no interior das mesmas. Dito de outra forma, embora essas divisões do espaço se inscrevam numa memória comum, elas não são significadas a partir da mesma posição, mas de FD diferentes, contraditórias, que determinam os diferentes sentidos através dos quais é percebido esse espaço e são interpretados os diferentes elementos sensoriais que o compõem. Vejamos alguns exemplos a partir da análise das entrevistas.

 

3.3.3. As Entrevistas

Para discutir as questões levantadas, analisaremos alguns processos de designação nas descrições que os diferentes entrevistados fazem do espaço estudado. Identificaremos, a partir disso, alguns elementos que permitirão compreender que o modo como são referidos o habitante e o habitar está determinado pela percepção da inserção dos sujeitos no espaço (na referida divisão público/privado) e das atividades que nele realizam (consideradas próprias/impróprias, legais/ilegais, morais/imorais, de acordo com as normas de sociabilidade mencionadas).

 

a) o habitante

Vejamos a seguinte fala do vendedor ambulante (D) na descrição de uma das praças públicas analisadas: