A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico


resumo resumo

José Horta Nunes



Nessa passagem do saber urbano à divulgação enciclopédica, há transferências de sentido e gestos de interpretação[3]. Mesmo esses discursos que tendem à estabilidade estão sujeitos a falhas, a equívocos, a deslocamentos sentidos, e por isso são lugares pertinentes para se observar os processos ideológicos e de identificação dos sujeitos. Desse modo, temos em vista compreender certas regiões intermediárias em que os discursos estabilizados passam a circular em direção aos sujeitos leitores, expondo-os aos discursos institucionais e de especialidade. Conhecer o modo de circulação desses saberes leva a explicitar as brechas que permitem aos leitores trabalharem a polissemia, o questionamento, a resistência, os contra-discursos e a inscrição do “desejo” citadino[4].

 

Polissemia de cidade: em busca dos objetos discursivos

Em um verbete da Enciclopédia Discursiva da Cidade[5], denominado “prisma”. Orlandi relaciona o real da cidade com um prisma: a cidade se desdobra em faces e é significada de vários ângulos: “o real da cidade, como forma, é o prisma, entendido como polisêmico (...) faces entrelaçadas, triângulos que se recortam e se configuram em quantidade: espelho e transparência ao mesmo tempo” (ORLANDI, 2003, p. 31). A cidade é um objeto polissêmico, que produz sentidos em várias direções. Isso nos levou a considerar que os discursos sobre a cidade constituem objetos a partir de diferentes posições de sujeito, o que corresponde às diferentes faces e ângulos do prisma. Em um projeto em andamento que dá continuidade à ENDICI, tenho analisado sentidos de "metrópole" em um corpus aberto de textos jurídicos, administrativos, da mídia e do senso comum[6]. Após algumas análises, identifiquei uma série de palavras que significam a metrópole, a cidade, e que estão ligadas por processos parafrásticos diversos. O recorte dos verbetes selecionados para este trabalho resulta dessa pesquisa

Retomamos parcialmente a afirmação de M. Pêcheux: "A existência do invisível e da ausência está estruturalmente inscrita nas formas linguísticas da negação, do hipotético, das diferentes modalidades que expressam um "desejo", etc., no jogo variável das formas que permutam o presente com o passado e o futuro, a constatação assertica com o imperativo da ordem e a falta de asserção do infinitivo, a coincidência enunciativa do pronome eu com o irrealizado nós e a alteridade do ele )}(ela) e do eles (elas)..." (M. Pêcheux, Cadernos de Estudos Linguísticos)

Projeto de Pesquisa: Enciclopédia Discursiva da Cidade: análises e verbetes. Auxílio à Pesquisa FAPESP, Processo n° 2012/22917-0.

 



[3] Ver E. Orlandi (Divulgação Científica e Efeito Leitor: uma política social urbana. In: Discurso e Texto: formulação e circulação dos sentidos. Campinas: Pontes, 2001, p. 153).

[4] Retomamos parcialmente a afirmação de M. Pêcheux: "A existência do invisível e da ausência está estruturalmente inscrita nas formas linguísticas da negação, do hipotético, das diferentes modalidades que expressam um "desejo", etc., no jogo variável das formas que permutam o presente com o passado e o futuro, a constatação assertica com o imperativo da ordem e a falta de asserção do infinitivo, a coincidência enunciativa do pronome eu com o irrealizado nós e a alteridade do ele )}(ela) e do eles (elas)..." (M. Pêcheux, Cadernos de Estudos Linguísticos)

[5] A ENDICI é uma enciclopédia digital on-line elaborada com base no dispositivo teórico da Análise de Discurso. Ela é coordenada e organizada por Eni Orlandi (UNICAMP/UNIVAS) e José Horta Nunes (LABEURB/NUDECRI/UNICAMP) e tem sede no Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade da Unicamp (LABEURB/NUDECRI/UNICAMP).

[6] Projeto de Pesquisa: Enciclopédia Discursiva da Cidade: análises e verbetes. Auxílio à Pesquisa FAPESP, Processo n° 2012/22917-0.