Cidade e futebol: um acontecimento político nos escritos em Cuiabá


resumo resumo

Ana Di Renzo
Ana Luiza Artiaga R. da Motta



Para Rancière (1995), “o conceito de escrita é político porque é o conceito de um ato sujeito a um desdobramento e a uma disjunção essenciais” (p.07). Continuando, o autor diz que o “ato de escrever é uma maneira de ocupar o sensível e dar sentido a essa ocupação” (p.07). O espaço em que se dá visibilidade à escrita é um modo de dar sentido.

Para Santos (2002), o termo espaço não tem um conceito, há uma multiplicidade de expressões como: “espaço urbano, espaço mental, espaço político, espaço sideral, espaço social” [...] (p.16). Ou seja, um modo de nomear, de direcionar o lugar que se ocupa.

O uso de escrita em placas é um modo de dizer e tem a ver com a formação ideológica de quem a produz. Conforme Pêcheux (1995), não se deve esquecer que o sentido não existe “em si mesmo”, “mas, ao contrário, é determinado pelas posições ideológicas que estão em jogo no processo sócio-histórico no qual as palavras, expressões e proposições são produzidas” (p.160).  Daí, a necessidade de se analisar os escritos em uma situação x, em que tomam corporeidade.

 

  1. Cidade e escrita: a bola da vez nos escritos de Cuiabá

A cidade de Cuiabá-MT, fundada em 1719 por Pascoal Moreira Cabral Leme, tornou-se um dos espaços cidades-sede dos jogos do Mundial de 2014. A evocação do poder local, como espaço político-esportivo, produz a interpelação ideológica da cidade de se ajustar às normas determinadas pela FIFA.

A Copa do Mundo de 2014, no Brasil, tornou-se o acontecimento político que, enquanto fato, ideologicamente, intervém no real do sentido da cidade que sediará os jogos. O discurso político-esportivo impõe a mobilidade urbana e o poder local sofre as ingerências da mudança, da “metamorfose” da cartografia citadina.

Em Mato Grosso, o Estado espacializa placas que estabelecem uma relação de sentidos outros com o corpo urbano, com o sujeito. Em uma palavra, expõe o olhar leitor às sinalizações, escritas de placas que mediatizam as 56 (cinquenta e seis) obras desenvolvidas na cidade. Dentre estas, o estádio, viadutos, Veículos Leve sobre Trilhos/VLT, pontes e avenidas que foram/deveriam ser construídas em função do evento esportivo, tornaram-se objetos de licitações comandadas pelo Estado.

A copa é no Brasil, e o país mobiliza e as cidades-sede que se movimentam e se inscrevem no discurso de ter que construir para jogar. O mercado imobiliário tomado pela especulação da mídia em relação ao território da cidade investe em propagandas de