Movimentos da contemporaneidade: a rua, as redes e seus desencontros


resumo resumo

Cristiane Dias
Marcos Aurélio Barbai
Greciely Cristina da Costa



metafórico de imagem por outra (COSTA, 2012), o pensador ser substituído pelo black bloc. De preto, máscara e coturno, numa mesma posição corporal, a diferença é que a mão esquerda parece brincar com uma pedra.

A charge também apresenta em sua formulação um enunciado que remete a outro: Quebro logo existo! que faz ressoar o dizer "Penso, logo existo!". Esse dizer bastante popularizado tem relação com a reflexão de Réne Descartes, para o qual a existência está submetida ao pensamento, existimos porque pensamos. Nesta perspectiva cartesiana, a existência está condicionada ao pensar, se distanciando de uma concepção de existência baseada na existência física, do corpo no mundo. É importante observar também que o título da charge faz referência a Descartes e ao black bloc, cuja palavra versão une Descartes e Black Bloc Brasil. Sendo seu modo de circulação, que é na rede, também marcado pela #Charge. A charge está na rede, num website de charge do cartunista Latuff. Por fazer parte de um arquivo na rede, pode ser encontrada por buscadores, acessada de diferentes maneiras.

Em relação ao funcionamento discursivo dessa charge, podemos dizer que estamos diante de um discurso que atualiza a memória ao jogar com a imagem do pensador e com o enunciado que aponta para o fato de que a existência prescinde do corpo, o sujeito só existe se pensar. Trata-se de uma versão que, nas palavras de Orlandi (2001: p. 13), refere-se a "direção, espaço significante, recorte do processo discursivo, gesto de interpretação, identificação e reconhecimento do sujeito e do sentido produzidos por uma formulação na relação com outras formulações possíveis, suas versões. Neste caso, a versão joga com a figura do black bloc textualizada no lugar do pensador, que se diferencia, sobretudo, porque tem consigo uma pedra. Essa versão, essa imagem é atravessada e, portanto, constituída pelo dizer Quebro, logo existo!, que ao ressoar o enunciado "Penso, logo existo", aponta para uma outra diferença, a substituição de pensar pelo verbo quebrar, acentuando por um lado, os discursos que criminalizam os black blocs à medida que os relacionam com o quebra-quebra, com a depredação, a partir do verbo quebrar, de maneira a reiterar que a existência deles é determinada pelo vandalismo.

Entretanto, esse processo discursivo é marcado pelo equívoco que irrompe desestabilizando as discursividades de criminalização uma vez que o impossível da linguagem alia-se à contradição. Isso porque o verbo quebrar, num funcionamento transitivo, diferente de pensar, intransitivo, reclama um complemento - quebrar o quê? -, possibilitando que outros sentidos se discursivizem. Dito de outro modo, conforme