Relacão sujeito indígena/cidade: Análises para a construção de um objeto de pesquisa


resumo resumo

Águeda Aparecida da Cruz Borges



Para mostrar esse funcionamento, chamo a atenção, no recorte de sequências discursivas, primeiramente, para algumas expressões como: “penso que”, “eu acho que”, “no meu pensar”,na minha opinião”, que dão a ideia de que está se falando de uma posição e que esse dizer só pode ser dito desse modo.

 

P1) Penso que, agora já são cidadãos comuns, igualmente a gente, não tem mais jeito de voltar atrás, tão tudo aí falando português...

 

P2)Eu acho que também eles devem ser julgados na nossa lei como cidadão, tem uns né? Porque tem os que ainda ficam na aldeia.

 

P3)Bom, no meu pensar eu acho que sim, eu acho que ele deve ser tratado como o branco, já num ta aí, vivendo aí que nem todo mundo na cidade

 

P4)Na minha opinião,tem que ser na forma da lei, essa coisa de porque é índio é incapaz e inocentam, nada a ver, toda vida eles são esperto mesmo, mas precisa de cidadania assim como qualquer um.

 

Na perspectiva trabalhada, o sujeito constrói seu dizer nas bases do imaginário com o qual ele se identifica, isto é, o imaginário que ele constrói sobre seu espaço, e o espaço do Outro tem por função sustentar os processos de identificação e é somente por um trabalho de desarranjo/rearranjo desses processos que a identidade pode estar sempre em formação/transformação.

O grupo de sequências em análise produz uma reformulação/paráfrase do dizer que abre para a interpretação de que os sujeitos aí se inscrevem pela 1ª pessoa do verbo em uma posição de cidadãos entendida pelo lugar cedido ao Outro. É em relação a si que se atribui o espaço ao índio, na ilusão de domínio de si: “penso que”, “eu acho que”, “no meu pensar”, “na minha opinião”. Os sujeitos assumem um engajamento discursivo para produzir, a partir da “sua” posição, ou seja, a de cidadão e assim projetam a “cidadania” para os índios, por isso mesmo, sustentando-se no discurso jurídico. Neste caso, o sujeito é interpelado pelo discurso jurídico, funcionando pela comparação para “se realizar” a cidadania: “agora já são cidadãos comuns”, “igualmente a gente”, “eles devem ser julgados na nossa lei como cidadão”, “ele deve ser tratado como o branco”, “aí que nem todo mundo na cidade”, “precisa de cidadania assim como qualquer um”.

De acordo com Zoppi-Fontana (idem) o gesto impresso nas sequências discursivas pode ser considerado como um acontecimento lingüístico no qual os movimentos de interpretação se representam como “tomadas de posição” do sujeito de