A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico
José Horta Nunes
(áreasurbanas, cidades, etc.)e isso dá margema uma flutuação de formações discursivas conforme o tipo de laço constituído.A região metropolitana conjuga, de um lado, a urbeampliada (geografia, urbanismo);de outro, a reunião oficial de municípios no discurso estatal (“municípios limítrofes” na legislação). Esse equívoco do urbanista e do jurídico no mesmo objeto dá espaço a falhas específicas, por exemplo, aduplicidadegoverno/governança, e objetos “partilhados” como “indústrias, infraestruturas e habitações”.Outra metáfora citadina é a da“megacidade”,uma"aglomeração urbana" com“rápido processo deurbanização”, marcada poruma expansão e intensificação da cidade-urbe. Mas a megacidadenão forma ligação: a população que conta não inclui a da região metropolitana, daí a distinção entre esses dois objetos.A megacidade “polariza” por meio dodiscurso econômico, inscrevendo objetos específicos como “comércio” e “indústria”, e evocalateralmenteoutras formações discursivas (“conhecimento” e “cultura”) sem dar corpo a elas, sem expandi-las. A megacidade se aproxima, enfim, da cidade global, enquantosua polarização é significada mundialmente. No entanto,odiscursomundial é incipientee ela ainda mantém uma relação com seu entorno.Já a megalópole, que também é definida como uma “aglomeração urbana”, não ésomenteuma extensão da cidade-urbe, pois, sendopluripolarizada, mantémumaunidade dentro da pluralidade. Na megalópole, cidade emunicípio tendem a sedissipar, diante da “forte integraçãoeconômicae intensos fluxos depessoasemercadorias”,dos“transportesrápidos”. Por fim, a“cidade global”se distingue dos objetos anteriores por sua ligação direta e intensa com a “globalização”, com tendência a apagar omunicipal,oregional, o estaduale o estatal: a força da globalização insere a urbe diretamente no “sistema global de finanças e comércio” e nos “assuntos globais”. A cidade-globo é um objetoque torna a cidade descontínua: não háligaçãocom o entorno, com a área ou região,mas com o mundo,ou melhor,especialmentecomoutras cidadesglobais na conjuntura econômica mundial(Londres,Nova Iorque,Tóquio, Paris, etc.).
d)Buscamos compreenderas relações entre interdiscurso, objetos discursivos e falhas, considerando-se a relação língua-discurso.Cada objeto apresenta seu regime de aparecimento, permanência, desaparecimento, transformação, na relação com as formações discursivas. Vimos que o objeto-município tende a um isolamento e estabilidade, enquanto o objeto cidade tende ao equívoco e à pluralidade com