A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico


resumo resumo

José Horta Nunes



jurídico; em seguida, um sujeito “livre”, que vai além desse perímetro municipal, e se expande em regiões metropolitanas, megacidades, cidades globais, etc., e aí estão as condições de individualização do sujeito em um ou outro desses sítios de significação. Assim, temos na Wikipédia a contradição entre a determinação jurídica de uma “autoria anônima” reguladora, e a “participação livre” do sujeito que circula no mundo global sujeito ao mercado.

 

b) O "município" é o objeto-cidade que coincide com o discurso do Estado, sustentado pela formação discursiva jurídica e administrativa. Aí se encontram as condições de cidadania, de divisão do território, de propriedade. A relação de intertextualidade com a constituição brasileira fixa esse objeto. A noção de município aparece também no verbete “região metropolitana”, de modo que aí também se inscreve o Estado, que regula a legitimação desses espaços que reúnem “municípios limítrofes” e se voltam para o planejamento urbano. Porém, a região metropolitana, não se apresenta como “território”, mas sim como “região”, “área”, e nessa medida está ligada à “cidade”, à “urbe”. Aí temos talvez a distinção mais significativa de nosso recorte de análise, entre “município” (“divisão territorial”) e “cidade” (“área urbana”), pois este último objeto, a cidade-urbe, é a base para a formação da “metrópole”, da “região metropolitana”, da “megacidade”, da “megalópole” e da "cidade global".

 

c) A série de “cidade”, incluindo cidade, metrópole, região metropolitana, megacidade e cidade global, apresenta uma continuidade e também, diferenciações deslocamentos internos. A regularidade mais visível é a da filiação aos discursos geográfico e urbanista ("área urbanizada", "área urbana", "população", "densidade populacional"). O jurídico aparece como um objeto localizado (“estatuto legal”), sob a dominância do discurso urbanista. A cidade é “urbe”, uma área urbanizada, e sua definição é instável, o que explica as falhas e a polissemia que envolve todos os termos relacionados, e que compreende extensões, sobreposições, integrações, e uma abertura rarefeita a outras formações discursivas. A metrópole são “áreas urbanas formadas por cidades”, dando continuidade ao objeto-urbe geográfico e econômico, mas nela é acrescentada a filiação à formação discursiva política (cidade central) e cultural. Funciona aí o encadeamento metonímico que leva à integração” à “ligação”, ao “fazer parte”: a cidade-urbe forma\liga outros espaços