“Cara de empregada doméstica”: Discursos sobre os corpos de mulheres negras no Brasil*


resumo resumo

Mónica G. Zoppi Fontana
Mariana Jafet Cestari



http://www.beneditadasilva.com.br/wp-content/uploads/2014/04/29.04-047.jpg

 

Esta imagem foi reproduzida por diversos meios de comunicação e aparece comentada no site de notícias da Deputada Benedita da Silva como segue:

Para render homenagem à categoria, a deputada Benedita presidiu a sessão trajando o uniforme de doméstica, profissão por ela já exercida.  “Não é demagogia estar aqui. É algo da pele, do coração, das veias e da luta”, afirmou Benedita. “Estar aqui significa que nós trabalhadores domésticos podemos, dentro do entendimento, fazer com que todos os segmentos como o governo, Congresso Nacional, federação e outras organizações de trabalhadores possam estar conosco nessa grande batalha”, enfatizou a petista. (http://www.beneditadasilva.com.br /sessao-solene-prestahomenagem-as-trabalhadoras-domestica/)

 

Nas declarações da Deputada encontramos ressignificada a menção a um corpo e uma cara de empregada doméstica, cujos sentidos pejorativos, como vimos, estão presentes e naturalizados na sociedade brasileira. A imagem da Deputada no estrado parlamentar, flanqueada pela bandeira do Brasil, discursando em trajes de doméstica, metaforiza visualmente o processo de empoderamento da mulher negra que resultou das práticas de resistência de classe, de gênero e racial empreendidas coletivamente. Representar-se/identificar-se como doméstica pela vestimenta “não é demagogia, é algo da pele, do coração, das veias e da luta”.

Ainda na esteira desse processo de metaforização que ressignifica a empregada doméstica como sujeito ícone da resistência à dominação racial e à exploração de classe, temos as imagens e os enunciados da recente campanha publicitária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) denominada Mulher na política, lançada em 19 de março de 2014.