A cidade enquanto objeto do discurso enciclopédico
José Horta Nunes
Se a megacidade é “polarizada”, a megalópole é “pluripolarizada por diferentes metrópoles conurbadas”. Em ambas temos as marcas da quantidade (“extrensa região”, “aglomerações urbanas”, “intensos fluxos de pessoas e mercadorias”) e velocidade de crescimento (“processo de conurbação”, “intenso desenvolvimento urbano”, “forte integração econômica”). A megalópole não é uma extensão da cidade, tal como notamos em alguns casos (metrópole, cidade global, megacidade), mas sim uma configuração que “integra”diferentes metrópoles. O sentido de integração, e não apenas“ligação” indicaforçamaior dos laços entre as metrópoles, com a intensidade dos “fluxos”, o que leva à imagem de um outro objeto derivado: os “meios de transporte rápidos” (“trens expressos, autopistas e pontes aéreas”). No processo que leva à megalópole vãose sobrepondo os objetos discursivos. A expressão “intenso desenvolvimento urbano” acentua as características da urbe e do regionalismo geográfico e econômico.Tal predominância é tão forteque se chega a apontar a ausência das “áreas rurais”, coma diluição da distinção entre urbano e rural.A megalópole, ao salientar os“meios de transporterápidos”como símboloda urbanização, exacerba a imagemda região-urbe, diluindoseu outro.
Objetos-cidade e dispositivos linguístico-discursivos
Retomandoas análisesdas definiçõesrealizadas até aqui, vamos a seguir expor algumas reflexões a respeito do discurso sobre a cidade, com o objetivo de apontar algumas regularidades e alguns dispositivoslinguístico-discursivosque fazem parte dos funcionamentosidentificados. Atentamos paraos diferentes objetos-cidade, suas distinções, suas expansões, suas divisões e desdobramentos, em sua polissemia; e também paraa relação desses objetos com o interdiscurso, asformações discursivas, as instituições.Seguem abaixo os resultadosa que chegamos:
a)A posição do enciclopedista é a de um lugar desaber sobre a cidadena conjuntura global e local e em sua pluralidadelimitadade formações discursivas.De um lado,temosa relação do discurso enciclopédico com o Estado, com o território e suas subdivisões oficiais, com uma estabilidade dos sentidos na formação discursiva jurídica,condicionando a individuaçãodos sujeitos pelo Estado; deoutro lado, e aí vemos funcionarideologicamenteo enunciado “a enciclopédia livre”, temossítiosde significação não ligados ao Estado, e que se orientam para o discurso econômico, político, político, cultural, etc. Primeiramente,o sujeito individuado no discurso