Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



mudança do estrato social da população que nela mora e circula e ao abandono do espaço pelo poder público, com as conseqüências que isso tem para sua paisagem física (deterioração das casas, dos edifícios e dos equipamentos urbanos, de modo geral), bem como para a degradação das relações sociais, associada mais especificamente aos fatores expostos a seguir. 

Os habitantes da região são hoje em sua maioria pessoas de classe média e média baixa, além de um número crescente de moradores de rua, adultos e crianças, que sobrevivem da coleta de materiais para reciclagem, da prostituição, da mendicância e/ou de pequenos furtos aos transeuntes e aos veículos; o tráfico e o consumo de drogas ilegais, além do consumo excessivo de álcool, é um fenômeno muito difundido entre esses moradores de rua. Existe paralelamente o problema do esvaziamento do espaço, que entre 1980 a 1991 perdeu 134 mil habitantes (11 % da população da região), produzindo o esvaziamento de 30% dos imóveis, muitos dos quais são objeto de ocupação ilegal da população de “sem teto”, organizada em torno de movimentos sociais.

Durante o dia o local continua a desempenhar as funções de centro de trabalho e de comércio, embora não se trate mais de um comércio de luxo (transferido para outros bairros e para os shopping centers), fato associado à emergência de um grande volume de comércio informal, exercido massivamente de maneira ilegal, motivo de disputas entre os proprietários das lojas e os vendedores ambulantes, que sofrem repressão por parte do poder público. No período noturno a região tornou-se muito conhecida como cenário de prostituição, notadamente homossexual, incluindo a presença de travestis e de drag-queens e associada muitas vezes ao problema da pedofilia, o que constitui outro dos focos de tensão que caracterizam esse espaço.

Embora as conseqüências de todos esses problemas sobre a aparência do espaço não sejam tão evidentes, como pode parecer por este relato, para quem não o conhece (apesar de os mesmos serem nitidamente visíveis e bastante chocantes, o espaço mantém, sobretudo durante o dia, uma rotina “normal” e uma infra-estrutura urbana considerável, com praças e construções bonitas, rodeadas por muito verde), existe o referido con-senso, no sentido de senso-comum, de sentido partilhado, a partir do qual o espaço é percebido como “decadente” e “deteriorado”, além de “conflituoso”.

As perguntas que podemos fazer-nos frente a esse fato, tendo em vista a análise da dinâmica das ambiências, em sua dimensão simbólica e política, são as seguintes: se o espaço é percebido como “decadente”, que sentidos específicos são conferidos a essa