Quando os espaços se fecham para o equívoco


resumo resumo

Suzy Lagazzi



Quero chamar a atenção para o fotograma acima. O rosto encapuzado e a mão armada imobilizam os sentidos e afirmam a posição-bandido, focalizando nosso olhar nos gestos do sujeito e fazendo apologia à vida. É muito significativo que a saída encontrada pelos jovens tenha ficado atualizada pela memória estabilizada da dicotomia bandido/vítima, na qual ressoa a dicotomia bandido/pessoa de bem, que na sequência nos traz a dicotomia pobre/rico. O pobre deixa de ser um bandido em potencial para se tornar bandido de fato. A contradição que constitui essas relações fica silenciada e o morro fica reiterado como lugar de bandido. A cena acima, tantas vezes visualizada em situações nas quais há “reféns” e “bandidos”, é uma cena limite, prototípica da falência das negociações, na qual a última cartada se dá pelo argumento da vida.

Em Era uma vez... o conjunto de contingências injustas significa o social no silenciamento das determinações históricas. São contingências da vida do sujeito, o que traz o foco da discussão do social para o indivíduo. A polissemia da cidade, do morro, da violência fica contida na previsibilidade das interpretações que as dicotomias determinam. Ser vítima de contingências é uma questão que reafirma o sujeito dissociado do social. A própria vitimização já é um sintoma do viés subjetivista.

 

Em torno do sujeito e do subjetivismo

O investimento na vida das personagens buscando as contingências, num percurso de humanização que acolhe emoções, é uma abordagem que reitera as dicotomias estabilizadoras, embora se proponha a colocar em pauta as fragilidades das relações sociais.