O ritual da mística no processo de identificação e resistência


resumo resumo

Freda Indursky



Resistir, Produzir também na Educação”.[1] Ou seja: a educação é tão importante quanto a ocupação de terras para o Movimento. Aliás, uma remete à outra, em um processo semântico que vai se desdobrando de paráfrase em paráfrase, formando um processo metafórico em espiral: “sem educação não há ocupação que dure”, “sem educação não é possível formular políticas de ocupação”, “sem educação não há como fazer reforma agrária”, “sem educação não há resistência às políticas governamentais” , “sem educação não há como formular uma política agrária”, “sem educação não há solução para os Sem Terra”, etc. E nessa espiral, uma palavra pela outra vai construindo a identificação desse sujeito. 

Cada um desses estágios representou, em um determinado momento das lutas do MST, um sonho utópico, sonho que se converteu em demanda a qual, por fim, se tornou realidade: uma conquista do sujeito desejante cuja pulsão é de natureza político-social. E é um momento dessa trilha que estamos examinando nesse momento: a conquista de um Curso de Pedagogia específico para a formação de professores para as escolas do MST. Chegando neste ponto, fechamos esse longo parêntese que abrimos para retornar às duas místicas descritas em seção anterior.

Analisando as místicas educacionais

A conquista de um Curso de Pedagogia específico para a formação de quadros para as escolas de crianças do MST é um feito ímpar, é um acontecimento histórico, mas não basta, por si só, para garantir o modo de operacionalizar um curso desta natureza, que atenda os objetivos do Setor de Educação do MST, pois os professores que ministravam esses cursos não estavam necessariamente preparados para pensar a escola desejável à causa Sem Terra, cujos saberes não fizeram parte de sua formação, nem a "terra" é seu lugar de pertença. É claro que havia disponibilidade por parte da Universidade; claro está, também, que havia disponibilidade por parte dos professores que se propuseram a colaborar com essa experiência. No entanto, por mais que estes professores se identificassem com a causa Sem Terra, nem sempre saberiam se colocar no lugar social de um sem-terra ou de um acampado, pois não eram movidos pelas questões que levam os sem-terra a acreditar que têm direito de lutar pelo direito à terra.

Alianças e simpatia tanto institucional quanto por parte dos professores que se engajaram no projeto certamente existiam e foram estes os elementos de partida para a execução do Projeto. Mas, nas salas de aula, também havia espaço para diferenças,



[1] Este lema deu título para a dissertação de mestrado de Ivana Acunha Guimarães por mim orientada: Ocupar, resistir, produzir também na educação: uma análise do discurso pedagógico do MST