A pátria (s)em chuteiras: reescritas do Brasil na Copa das Confederações


resumo resumo

Júlia Almeida



sendo “o relacionamento permanente do discurso e do interdiscurso: este último “trabalha” o discurso, que em retorno o redistribui perpetuamente (2008b, p. 25).  Em muitos casos, rejeita-se a maneira como os brasileiros são representados e “postos em narrativas”, para usar a feliz expressão de Alice Krieg-Planque (2011, p. 26), que em muitos casos, como nas peças publicitárias televisivas, mobilizam também dispositivos visuais para construção dessas narrativas. Muitos intertextos, revolvendo a memória discursiva do país, ajudam a constituir um “nós-cidadão” que por vezes coloca suas demandas diante de um “outro” hostilizado (os governantes sobretudo, por vezes também a Fifa): “Desculpe o transtorno, estamos mudando o país” subscreve um sujeito que impõe sua presença nos espaços públicos das cidades em prol de mudanças; “Afasta de mim esse cale-se” rejeita a violência passada e presente contra a população; “Srs. Governantes, cadê o respeito e o fair-play?”devolve aos governantes a frase de Blatter dirigida à população no estádio Mané Garrincha, assim como “Se o mundo pensou que somos um povo sem educação por causa das vaias a Dilma, acertou! Sem educação, sem saúde e, FINALMENTE, sem paciência” recontextualiza o enunciado de Blatter em proveito de uma nova imagem do brasileiro. Em alguns casos mais raros, a aforização não subverte, mas toma a mesma direção de um enunciado que a comunidade partilha (captação), como no verso do hino nacional que circula nos cartazes das manifestações: “verás que um filho teu não foge à luta”.

Desse “nós” difuso que os cartazes oferecem um contorno fluido – de manifestantes, cidadãos – saltam imagens dos brasileiros que a mídia nacional e teve dificuldades para processar. Explicar o movimento, conhecer os manifestantes, entender os brasileiros nas ruas foi uma tarefa exigida na pauta de grandes órgãos de imprensa, que aqui e ali se conduziu por caminhos mais ou menos homogeneizantes: é a nova classe média[6], são os jovens da “geração virtual”, são os indignados, são os filhos rebeldes do PT, são vândalos, etc. Mas a ampliação, consolidação e diversificação das manifestações traem muitas análises apressadas e mantém em suspenso uma palavra única ou final. De novo a dissemiNação de Bhabha nos parece um conceito útil para pensar essa não totalização dos fluxos em movimento. Como temos dito, uma confluência de contra-discursos, de contra-sentidos, de contra-usos que reescreve a nação como “zona de instabilidade” e revolve o terreno das estratégias dominantes pelas



[6] Evidenciar a presença da classe média nas ruas no sentido de deslegitimar o movimento brasileiro é desconhecer o perfil desses movimentos sociais em rede no mundo alavancados pela internet, em que os jovens com instrução superior têm papel ativo, e também desconsiderar os outros momentos da história das lutas no Brasil, como a ditadura, em que os universitários tiveram importante papel na resistência.