Quando os espaços se fecham para o equívoco


resumo resumo

Suzy Lagazzi



perigoso. A antecipação se faz implacável e a prisão é a consequência previsível que testemunha a absoluta não-escuta entre posições estabilizadas na dicotomia.

O revólver em foco, na mão de bandidos e vítimas, metaforiza metonimicamente[3] a violência dessa sociedade dividida. Diferentes sentidos para a violência se condensam no gesto de empunhar a arma, dependendo da mão que o segura, mas essa leitura fica barrada em Era uma vez... e reforça uma interpretação inequívoca da violência como ameaça à vida. Este ponto nos leva para uma das cenas finais do filme.

 

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“Eles vão me matar, Nina. Eles vão me matar ou aqui ou na cadeia. Eu não sou bandido.”

Esta fala antecede a cena acima fotogramada. Por um conjunto de contingências injustas, Dé é acusado de ter sequestrado Nina, quando na verdade ele a salvou. Os dois jovens, tentando voltar pra casa de Nina, são surpreendidos por um forte esquema de segurança montado em frente à casa da garota. Ao avistarem os jovens, os policiais interpretam que Dé ainda mantém Nina como refém e os perseguem. Os dois jovens se refugiam no quiosque no qual Dé trabalha, em frente ao apartamento onde mora Nina. O aparato policial cerca o local, exigindo que Dé liberte a garota. Dé está tomado pelo medo de sair e Nina tenta convencê-lo de que tudo vai dar certo. Nesse momento tem lugar a fala acima destacada: “Eles vão me matar, Nina. Eles vão me matar ou aqui ou na cadeia. Eu não sou bandido.” Na cena seguinte vemos as janelas do quiosque se abrirem e os dois jovens nas posições a eles imputadas: de refém e sequestrador, de vítima e bandido. Dé é morto por um tiro certeiro de um policial e Nina acaba também sendo morta, depois de começar a atirar contra os policiais, tomada pelo desespero e pela revolta de ver Dé morto.

 



[3] Cf. Lagazzi (2013, 2014).