Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



mobiliza, precisamente, essa questão, como vemos na seguinte definição que havíamos já parcialmente referido:

 

(...) o hábito (...) não consiste numa resposta individual às solicitações do mundo ao alcance mas (...) opera, ao contrário, no nível do coletivo. (...) seria mais adequado falar de hábitos no plural, na medida em que eles mobilizam nossas maneiras de perceber, de mover-nos, de compreender e mesmo de pensar. É assim que cada situação corresponde a uma configuração ou reconfiguração desses diferentes planos que escapa em grande parte à atividade consciente dos agentes. Os hábitos são em grande medida anônimos e impessoais; eles funcionam no nível pré-reflexivo da experiência e garantem o que é tido por adquirido para cada um.

[(...) l’habitude (...) ne consiste pas en une réponse individuelle aux sollicitations du monde à portée mais (...) elle opère au contraire au niveau du collectif. (...) il serait plus adéquat de parler d’habitudes au pluriel dans la mesure où elles mobilisent tout autant nos façons de percevoir, de bouger, de comprendre et même de penser. C’est ainsi que chaque situation correspond à une configuration ou reconfiguration de ces différentes plans qui échappe en grande partie à l’activité consciente des agents. Les habitudes sont dans une large mesure anonymes et impersonnelles ; elles fonctionnent au niveau pré-refléxif de l’expérience et garantissent ce qui est tenu pour acquis pour chacun.] (DEWEY, 1902 apud THIBAUD, 2004, grifos nossos)

 

Podemos dizer, sem o intuito de apagar a especificidade das noções em questão, que através do discurso, de sua relação com a memória histórica e com a ideologia, o que procuramos determinar são esses condicionamentos sociais, coletivos, de natureza política que, de modo não consciente, “anônimo e impessoal” (não subjetivista, diríamos nós), mobilizam nossas maneiras de estar, de agir, de pensar, de compreender e de perceber o espaço, garantindo o que é “tido como adquirido por cada um”. Vale insistir que, de uma perspectiva discursiva (materialista), a ideologia não é um conjunto de “idéias”, mas de práticas sociais cujos sentidos, elaborados na/pela língua, apresentam-se como naturais, sendo percebidos e aceitos por todos como evidentes o que faz da análise da língua um instrumento para desnaturalizar essas práticas, desestabilizar nossa familiaridade com o mundo e nossos hábitos perceptivos.

Passemos à pesquisa de campo realizada para que possamos esclarecer, a partir da análise do corpus, as questões que foram aqui levantadas.

 

3. A Pesquisa de Campo

3.1. As praças públicas

Nosso objeto de estudo esteve constituído pelo espaço compreendido entre três praças públicas localizadas no centro histórico da cidade de São Paulo, a saber, a Praça da República, o Largo de Arouche e a Praça Julio Mesquita, espaço no qual cabe destacar a Avenida Vieira de Carvalho, que liga as duas primeiras praças, como observamos no seguinte mapa: