Discurso urbano e enigmas no Rio de Janeiro: pichações, grafites, decalques


resumo resumo

Bethania Mariani
Vanise Medeiros



A partir do que Authier afirma, podemos dizer que trocadilho mostra que significado não se cola ao significante, posição de trabalho da psicanálise em sua visada lacaniana. Orlandi (2001), pensando a cidade como espaço simbólico-político, aponta que o trocadilho

“met em question la façon de signifier l’alterité dans la ville car l’autre, qu’il métaphorise, prend la forme de la ville même. Il attire notre attention vers des évidénces, des répresentation collectives – les automatismes de langage – qui par ce processus, où joue le dédoublement, acquièrent des sens différens (transfer).” (ORLANDI, 2001)

 

Se o real da cidade é, conforme a autora, saturado pelo discurso, diríamos, das técnicas urbanas, que, apoiando-se no consenso e na normatividade, integra apagando as diferenças, diremos que a sigla SMH, se a compreendemos como citação-trocadilho, que circula em espaço outro, denuncia tal apagamento. Produz a equivocação que retira da (in)visibilidade – também produzida pelo cotidiano da cidade o outro. Porém, essa sigla pode ser também a reprodução do gesto autoritário de uma prefeitura que se considera inimputável ao fazer suas próprias pichações.  Nesse caso, permanece a contradição do estado, conforme já discutimos (MARIANI e MEDEIROS, 2013).

 

3. Questões que ainda inquietam

Uma das questões que nos ficou – e ainda fica – da reflexão que promovemos sobre a sigla e as fotos no Morro da Providência (MARIANI e MEDEIROS, 2013) foi a da arte como resistência. Pensar na arte como resistência significa pensá-la para além de denúncia e reação, como portando um poder de subverter um estado de coisas. É este o ponto que iremos tocar agora e, para isto, lançamos mão de Rancière. Antes é necessário lembrar que não está aqui uma discussão se a arte tem ou não um caráter político, mas a arte que se propõe como ação política, daí trazermos Rancière em seu texto “Les paradoxes de l´art politique” (2013).