Memória e movimento no espaço da cidade: Para uma abordagem discursiva das ambiências urbanas


resumo resumo

Carolina Rodríguez-Alcalá



diferentes, o que estabelecerá sentidos diferentes às suas palavras, todos igualmente “evidentes”, como diz Pêcheux[1] (ibidem, p.161).

É através do funcionamento contraditório da ideologia que essas evidências são produzidas e que sentidos e sujeitos se constituem, ao mesmo tempo em que o espaço é produzido (percebido)[2]. A ideologia não é, para a AD, “falsa consciência” ou “alienação” mas, em conformidade com a definição althusseriana, mediação necessária entre o homem e suas condições materiais de existência; ela diz respeito às relações de poder (desiguais, contraditórias, antagônicas) que regem a sociedade, tal como elaboradas simbolicamente, em e através dos mecanismos lingüísticos que sustentam o discurso, cujo funcionamento é da ordem do inconsciente (daí a sua eficácia). A ideologia, tal como definida por Orlandi, é o processo de produção de sentidos que, naturalizados, passam a constituir o senso-comum, a memória comum; nas palavras dessa autora (1990), a ideologia é “o processo de produção de um imaginário, isto é, produção de uma interpretação particular que apareceria no entanto como a interpretação necessária e que atribui sentidos fixos às palavras, em um contexto histórico dado”.

É a partir dessa concepção que propomos abordar discursivamente uma questão central na problemática das ambiências, a saber, o efeito de evidência e de naturalidade na relação cotidiana dos sujeitos com o espaço em que vivem. Como afirmam Thibaud e Tixier (1998), debruçar-se sobre a experiência ordinária, objeto dos estudos sobre as ambiências, é problematizar o que passa desapercebido na vida de todos os dias, interrogar o que se apresenta habitualmente como evidente, desestabilizar nossa familiaridade com o mundo, nossos hábitos perceptivos. A noção de hábito de Dewey

 

[1] Afirma Pêcheux (ibidem) que “uma palavra, uma expressão ou uma proposição não tem um sentido que lhe seria ‘próprio’, vinculado a sua literalidade. Ao contrário, seu sentido se constitui em cada formação discursiva, nas relações que tais palavras, expressões ou proposições mantêm com outras palavras, expressões ou proposições da mesma formação discursiva. De modo correlato, se se admite que as mesmas palavras, expressões e proposições mudam de sentido ao passar de uma formação discursiva a uma outra, é necessário também admitir que palavras, expressões e proposições literalmente diferentes podem, no interior de uma formação discursiva dada, ‘ter o mesmo sentido’ [...]”. Para dar um exemplo banal, “greve” pode ser sinônimo de “baderna” numa FD dada, ou significar “reivindicação por uma maior justiça social” numa FD diferente.

[2] Pêcheux retoma e desenvolve na AD as duas evidências ideológicas fundamentais postuladas por Althusser, a saber, a evidência do sujeito, enquanto centro e origem de si, e a transparência da linguagem, enquanto código que remeteria diretamente, de forma transparente, às coisas do mundo, a partir de sentidos dados naturalmente, evidências através das quais se apaga o processo histórico de constituição desses fenômenos. Caberia nesse quadro elaborar a terceira evidência que completa a referida tríade sujeito/linguagem/mundo, e que já está posta por esses autores, que é a “evidência do mundo”, se é que podemos assim chamar, pela qual este se apresenta como meio natural pré-constituído, apagando-se o processo histórico de produção do espaço (político) da vida humana. É a formulação dessa questão, em nosso entender, a contribuição específica e inovadora que a reflexão promovida na área saber urbano e linguagem visa trazer para os estudos do discurso (e da cidade).  e apresenta como sendoetao e origem de si, e a evidnte "88888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888888