Quando os espaços se fecham para o equívoco


resumo resumo

Suzy Lagazzi



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Moro no lugar mais bonito do mundo: o Morro do Canta Galo. Uma favela no bairro mais rico do Rio de Janeiro. Gari, babá, ambulante, flanelinha, garçom, motorista, boy. É muita gente. Faço parte dessa multidão invisível que trabalha todos os dias nas ruas de Ipanema. Quase ninguém nota nossa presença. Minha mãe sempre disse que rico é rico e pobre é pobre. Cada um vive pro seu lado. Mas toda vez que eu via ela [a princesa], eu esquecia disso.

 

Esta fala abre o filme Era uma vez... Uma história de um conto que não é de fadas e que boicota totalmente o “foram felizes para sempre”. Um filme que apresenta um final trágico, num argumento muitas vezes reiterado: uma história de amor entre um garoto pobre e uma garota rica, a “princesa”. Mas mais que um romance, uma história entre o Morro do Canta Galo, “o lugar mais bonito do mundo”, e Ipanema, o bairro mais rico do Rio de Janeiro, no qual a favela que nele se situa, justamente o Morro do Canta Galo, não entra. Um paradoxo? Não, uma questão de relações de força. A geografia que impera nesse caso é a de um imaginário circunscrito por limites econômicos: “rico é rico, pobre é pobre” e cada um vive pro seu lado. Mas às vezes os espaços se invadem.

 

A negação do equívoco