Cidade e futebol: um acontecimento político nos escritos em Cuiabá
Ana Di Renzo Ana Luiza Artiaga R. da Motta
Introdução
Este trabalho tem como proposição pensar a escrita de placas, produzida em Cuiabá-MT, uma das cidades-sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014. O acontecimento futebolístico, no Brasil, fez com que o Estado movesse o olhar sobre a cartografia, a geografia[1]da cidade e a precisasse em obras de mobilidade urbana.
ParaLefebvre (2001), a cidade “é uma obra”. “Com efeito, a obra é valor de uso e o produto é valor de troca” (p.4). Em meio à obra, o espaço é ordenado pelo simbólico das letras, do desenho gráfico dos mapas, quadras recortadas por ruas. Distintas formas de organização, de sentidos (ORLANDI, 2004) ao que se nomeia como cidade.
Conforme LeGoff(1998),otermo cidade tem um percurso históricoimportantepostoque a palavra “ville”,usada para se denominaracidade, éde conhecimentorecente. Lembra que até o século XI e XII, a escrita era em latim e para nomear a cidade usou-sedesignações como“civitas”, “cité” ou ainda “urbes”. Enfatiza que o termo “ville”, antigamente, designava o estabelecimento rural importante e de pertencimento ao senhor, o qual era compreendido como sendo o centro de poder não apenas pelo econômico, mas,sobretudo,em relação aos trabalhadores que viviam em redordas terras do senhor. LeGoff(op.cit.)Pontuaque ao sedesignar a cidadena língua francesade“laville”, o italiano se valerá do conservadorismo e manterá o termo “Città”. Para o autor esse movimento de tomada de distintas posições no uso da língua para referir-se ao termo cidade marcará, necessariamente, as formas de poder do campo para o espaço da cidade. Em recorrência a esse movimento histórico diz que “o termo “villa” se aplicará à aldeia nascente a partir dos séculos IX e X.
A cidade, segundo LeGoff(1998), vai tomando corporeidade, urbanidade, a partir de núcleos que dá visibilidade ao povoado, e gradativamente o espaço do poder é subdividido e cingido pelas diferenças que o espaço institui entre o campo, o burgo da periferia e o centro.Dessa maneira, acidade torna-se porosa e o poder que ela emana reclama sentidos.
Do ponto de vista da linguagem, a cidade nos move agestos de interpretação[2]que se depreende da paisagem urbana, dos escritos que permeiam as ruas,materializadospelas placas. Porém, com que sentido os espaços são textualizados pelos escritos em um acontecimento?
Orlandi(1996). Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico.