Apresentação Dossiê



Nos museus, em torno dos museus
Dans les musées, autour des musées

 

Mariagrazia Margarito

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6004-0846
Universidade de Turim- Itália.
mariagrazia.margarito@unito.it

Eni Puccinelli Orlandi

ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8254-5212
Labeurb/Unicamp
enip@uol.com.br




Quando um projeto, que reuniu universidades dos dois hemisférios do nosso planeta, leva à publicação dos seus resultados, levando também em consideração os tempos tão difíceis em que vivemos, é momento para felicitações e satisfação por um trabalho em que múltiplas competências analisaram um "objeto social" dentro do quadro teórico da análise de discurso. O objeto social em questão é o texto expográfico, este texto escrito, colocado ao lado das obras, de objetos expostos, em diferentes lugares das salas de um museu, de uma exposição, seja qual for a tipologia desses lugares urbanos: museu de belas arte   s, de ciências, da vida quotidiana… Texto que acompanha a visita pública, mas não só.

Uma rede comum de conceitos fundamenta esta publicação e marca o perfil deste dossiê. O museu, como "práxis de significação", permite ler textos expográficos onde a função didática é acompanhada por outros dados: de memória, de re-conhecimento, em que a textualização da arte faz malabarismos com o esquecimento, relações de sentido, que moldam quem ama a arte, mesmo seguindo leituras contraditórias.

Uma construção de identidade está sendo implantada, supervisionada, até mesmo nutrida pelos ambientes urbanos onde vivemos.

Nessas páginas, diferentes tipos de museus são considerados. Um artigo examina um museu prisional e questiona a relação entre espaço urbano e espaço de punição, atualizando posições antagônicas que colocam em funcionamento a política do silêncio.

Os textos expográficos estabelecem um discurso expográfico, que não é específico dos museus: conhece lugares mais abertos, como o metrô. Pessoas que caminham, que correm, nos corredores das estações do metrô, são um público em constante movimento. A rapidez do movimento, da visão, gera relações inusitadas com a arte? O conceito de museu do território inclui linguagem e saber urbano, e o Museu da Favela é um testemunho privilegiado a ser analisado como um molde de discurso próximo a uma espécie de biografia urbana (processo de "biografização"). Quanto ao Museu do Homem Americano, são estudados os vínculos entre História, Memória e Saberes propostos por sujeitos que se identificam em um enclave americano do Parque da Serra da Capivara (anos 2010-2019) nas sequências discursivas do Fundham website.

Estas últimas linhas abordam o tema crescente dos recursos expográficos digitais e tours virtuais. O site Era Virtual tem como objetivo conhecer e aprofundar os museus brasileiros. Nesta publicação, um artigo busca detectar marcadores de textura digital, a fim de verificar como o sentido circula em textos expográficos que utilizam materialidades digitais.

Estes são os marcos que balizam nossa pesquisa: esperamos que seja frutífera e que seus artigos representem apenas o primeiro passo de uma longa caminhada.

Não poderíamos deixar de mencionar, mais uma vez, o trabalho conjunto, prazeroso e pródigo, em pesquisas e avanços, que representou essa relação de trabalho entre nossos dois mundos. Dois se fazendo um no trajeto percorrido por cada uma de nossas equipes em suas relações de trabalho. O passo inicial foi dado pelo nosso interesse em pensarmos a arte e sua textualização, de refletirmos sobre exposições, museus, em suas várias formas e funcionamento. Mariagrazia Margarito nos propõe, com seu trabalho sobre textos expográficos (2014), um desafio à análise, enquanto, ao mesmo tempo e em equipe, procurávamos dar sentido e mostrar o interesse específico de como a arte e sua textualização é significada do lado de lá e do lado de cá do Atlântico. Muito resta a pesquisar, a compreender, a discutir. Chegamos a resultados significativos que nos estimulam a ir mais em frente na compreensão dessa textualidade sobre/da arte, de Museus, seja fechado, seja a céu aberto, seja em terreno arqueológico. Como compreender um objeto simbólico, tão rico em seu processo de significação, apreendido em sua discursividade. Tomado como matéria significante e como processo sócio-histórico delimitando territórios de significação e práticas discursivas. Que nos afetam de sentidos, que nos propõem gestos de interpretação, na construção de nossa memória, não do passado, mas como memória discursiva, aquela que funciona pelo esquecimento nos impregnando de sentidos que nem suspeitamos existirem em nós e, ou, para nós. Nesse impasse entre o que nos propõe que lembremos e o que se estrutura pelo esquecimento, a presença da arte, em nós, nos abre para a significação.

 

Campinas/Turim, 10 de setembro de 2020

Mariagrazia Margarito e Eni Puccinelli Orlandi