produtivo estético não se sabe dele antes que ocorra, que se faça, que se experimente. Então o que levaria a ouvir para fazer? Ouvir para esquecer?
A gente procurava porque a gente não sabia da comédia, então a minha mãe sabia de umas e não sabia de outras, ela mandava a gente ir procurar com as pessoas que já brincaram, elas davam as partes que elas sabiam, como elas ensinavam a gente, quando dava elas explicavam: “A gente faz assim, assim”, aí elas diziam como era para a gente treinar em casa, para poderem saber. Isso ajudou muito, por que através delas a gente arranjou várias músicas de drama, que a gente não sabia e elas sabiam, davam a maior força a gente. A gente ficava porque tinham umas que faziam os gestos assim... tão bonitos que a gente mesmo não ia destrinchar, aquele passo que elas faziam. Elas faziam para a gente ver. A gente pedia para ver: “Mulher, faz aí para a mim o gesto para eu saber como é que faz!” E elas faziam para a gente ver como era, porque a gente não ia ter tempo de estar lá, elas não iam ter tempo de estar em casa, então a gente pedia a elas para fazerem os gestos e, em casa, a gente ia treinar. É porque a minha mãe está assim... já idosa, então não lembra muito, e ela lembra sempre das partes que ela sempre enfrentava, as que ela não sabia, já as que não passaram por ela, ela mandava a gente procurar as que sabiam. Elas sempre ajudavam a gente, elas escreviam pra gente, dava mesmo tudo certo.
Outra aprendizagem possível é da irreverente produção da insubordinação aos modos regulatórios da vida, despotencializadores da vida e implicadores da morte do desejo. Para além do aprendizado para ser dramista o efeito do falar foi revelando que essas trupes de mocinhas nas suas experimentações inventivas teatrais avançavam para derrubar proibições à condição feminina. Elas entoavam uma espécie de é proibido proibir nos seus gestos e vozes. Um caso comum às gerações mais velhas é não respeitar a quaresma. No momento mais proibido para festas, apareciam muitos dramas:
De criança começa a brincar drama, como eu, que comecei com dez anos. Foi indo, foi indo, eu só vivia brincando drama. Agora não, mas de primeiro a gente só vivia brincando drama, só vivia brincando drama. Quando era o tempo da quaresma, que não podia fazer samba, era drama por cima de drama, não era Comadre Laura?... Quando não era na quaresma, a gente brincava muitas partes, ensaiava muitas partes, aí tinha o samba, e o povo começava logo a dizer: “Está bom! Está bom! Depressa! Que é para nós dançarmos! Que já está na hora da gente começar!”, porque antigamente a festa, quando ia começar, eram sete horas, agora não, é às dez horas. Agora empata da gente começar drama, não é? Então, quando era na quaresma não tinha samba, e aí a gente brincava a vontade, as meninas ensaiavam os dramas, eram muitas partes, a gente ensaiava, a gente brincava as partes tudinho que a gente ensaiava, porque não tinha samba! O negócio era esse! (Maria, nascida em 1945).