calçada
José Horta NunesHá uma série de palavras urbanas que são significadas por meio de descrições técnicas, como certos objetos ou construções. Essas definições produzem um efeito de objetividade técnica, tal como acontece com a palavra calçada no dicionário Aulete Digital:
“Parte lateral de uma rua e ao longo dela, ger. junto aos prédios de ambos os lados, pavimentada, ger. mais alta que a parte central da rua por onde transitam os veículos, e reservada aos pedestres; PASSEIO.” (AULETE DIGITAL, 2015)
Mesmo quando se referem aos sujeitos urbanos, eles são considerados pelo discurso de especialidade (“por onde transitam os veículos”, “reservada aos pedestres”).
Temos aí a “cidade do automóvel”. A calçada aparece como lugar de circulação. Ela não tem uma autonomia: é vista como “parte” de uma rua, onde transitam veículos, enquanto na calçada circulam os pedestres. A significação de “passeio” surge como uma sinonímia, e aqui parece que o sentido é o de um objeto, e não o da prática de caminhar.
Esse modo de definir a calçada leva a notar que não se observam aí os acontecimentos: o andar, o caminhar, o se encontrar, o passear com cachorros, bem como em alguns casos, os serviços que ali estão presentes, como mesas de bares, bancas de revista, quiosques e outros.
Além disso, atualmente se coloca a questão da acessibilidade, de modo a signficar as condições de acesso dos sujeitos aos espaços públicos. Há muitas calçadas irregulares, esburacadas, estreiras, que apresentam algum tipo de obstáculo à passagem. Para os deficientes físicos, especialmente os cadeirantes, torna-se difícl, senão impossível, andar continuamente pelas calçadas. Quando se pensa a calçada na relação com o “quarteirão”, parece que algo aí falha. Há descontinuidades de uma região de calçada a outra no mesmo quarteirão.
A palavra calçadão surge, diante do que viemos de colocar, como um lugar mais adequado aos pedestres, um local amplo, geralmente central, para circulação, em que são reservados espaços especialmente aos pedestres, porém são espaços bastante localizados e restritos.
Bibliografia
AULETE DIGITAL – O DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Disponível em: http://www.aulete.com.br. Acesso em 17 de março de 2015.
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