comunidade

Eduardo Guimarães

A palavra “comunidade” tem sentidos relativos ao que é comum. Este sentido tem a ver com sua origem latina, vem de communitate (relação comum; instinto social, sociabilidade). Ligada a esta acepção, esta palavra assume o sentido de corpo social que toma determinações específicas como um grupo social que habita uma mesma região e tem uma cultura específica com governo próprio. Este sentido desloca-se para sentidos como conjunto populacional que é tomado como um todo por razões geográficas, econômicas ou culturais. E em mais uma especificação de sentido passa a significar o lugar habitado por um grupo social. É este sentido que observamos na presença da palavra comunidade no vocabulário atual com o qual se nomeiam espaços da cidade. Vejamos um enunciado encontrado num site na internet sobre a Rocinha no Rio de Janeiro:

“A Comunidade é a maior favela do Brasil contando com cerca de 56.000  habitantes, embora algumas fontes afirmem que há bem mais.”

Aqui claramente vê-se a conexão entre um sentido de comunidade como relacionado ao sentido de favela. E esta relação de sentido não se reduz a uma sinonímia ou à capacidade de referir a uma mesma coisa, um mesmo espaço. O simples aparecimento deste termo, como concorrente de favela, traz para o campo dos sentidos destes termos, ao lado da sinonímia, uma oposição. Tomo como exemplo um conjunto de anúncios de aluguel de apartamentos no Rio de Janeiro que continham um dos seguintes enunciados: “com vista para a comunidade” ou “sem vista para a comunidade”. Neste caso o modo de dizer que o apartamento está de frente para uma certa favela ou não se constrói exatamente pelo eufemismo que a palavra comunidade traz ao entrar em concorrência com a palavra favela.

Deste modo o sentido de relação social que a palavra significa se esvazia ao passar a funcionar como um modo de dizer que evita a palavra favela. E isto é um modo de re-significar aquilo mesmo a que se refere. Uma nova palavra aqui não é simplesmente um outro modo de dizer a mesma coisa sobre algo.  É um modo de mudar o sentido daquilo a que se refere. Ao mesmo tempo esta palavra vai significando o lugar, a favela, e concomitantemente aqueles que nela vivem, mas aí já tomados pelo sentido eufemisticamente esvaziado de seu sentido social, até porque já era um sentido bastante geral, não específico. E este sentido social acaba então por significar “grupo social desfavorecido”, ainda como parte deste funcionamento abrandado do sentido. E a palavra que se apresenta para contornar o sentido negativo de favela acaba por recolocá-lo em circulação.
 








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